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COMUNICAÇÕES 249 - SANDRA MAXIMIANO: UMA GESTORA DE EQUILÍBRIOS À FRENTE DA ANACOM

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Quando estava na idade de fazer escolhas, dizia que<br />

queria estudar até morrer. Porque é que isso era tão<br />

determinante para a sua felicidade?<br />

Porque me fazia confusão perceber que as pessoas se<br />

limitavam a trabalhar das nove às cinco. Via isso nos<br />

meus vizinhos, em muita gente que me rodeava. E não<br />

queria essa vida para mim. Não gostava daquela correria,<br />

do preparar o jantar todos os dias da mesma maneira<br />

e de não haver tempo para mais nada. Achava que<br />

as pessoas não aprendiam.<br />

Isso também diz muito sobre si, essa vontade de aprender<br />

constantemente. Tirou o curso de Economia, mas<br />

nunca quis trabalhar numa empresa… Porquê?<br />

Queria aprender até morrer. Era tão assertiva que isso<br />

irritava o meu pai. Aliás, ele que não levanta a voz, nunca<br />

discute, não lidava nada bem com isto. Só o vi duas<br />

vezes chateado na vida. Uma foi quando fez um bolo<br />

pela primeira vez e eu fui lá incomodá-lo (risos); e a outra<br />

quando eu insistia que só queria estudar. Dizia-lhe:<br />

“Acabo um curso e vou para outro, e depois para outro,<br />

e depois para outro. Não quero trabalhar!”. O meu pai<br />

achava mesmo que aquilo não podia continuar!<br />

Quando descobriu que poderia fazer isso na Academia,<br />

deve ter sido uma felicidade!<br />

Sim, percebi que era possível passar a minha vida a estudar,<br />

mas de forma produtiva e sustentável. Sem depender<br />

dos meus pais.<br />

O sonho cumpriu-se.<br />

Sim. Posso dizer que passei a minha vida toda a aprender.<br />

E continuo a fazê-lo.<br />

Isso tem muito a ver com a sua personalidade, a sua<br />

vontade de se superar, de ir buscar outras vivências,<br />

outras descobertas.<br />

Sim, totalmente. Repare: regressei a Portugal há três<br />

meses e no outro dia pensei: nos próximos seis anos<br />

tenho de tirar uma engenharia qualquer ou um curso<br />

de Direito. Sinto uma grande necessidade de evoluir,<br />

sinto esse apelo. Quando entrei para a <strong>ANACOM</strong>, nos<br />

primeiros dias em que havia muitas decisões financeiras<br />

para tomar, de gestão do dia-a-dia, senti: se isto for<br />

assim todo o tempo, em seis anos eu vou ficar burra!<br />

Mas o que encontrou foi um grande desafio? Neste setor,<br />

dificilmente sentirá a estagnação.<br />

Sim, existem muitos desafios. Mas no início assustou-<br />

-me muito perder tempo com coisinhas que não são<br />

assim tão interessantes…<br />

Já agora, uma curiosidade: quando o João Galamba a<br />

contactou por WhatsApp para a sondar para a ANA-<br />

COM, o que pensou? Que era uma mensagem de<br />

phishing?<br />

Lembro-me perfeitamente, era um sábado de julho. Eu<br />

estava a caminho da praia para fazer surf. E ele enviou<br />

uma mensagem a pedir para falar comigo por telefone.<br />

Não liguei muito, pensei que seria, sim, uma mensagem<br />

de phishing. Ou uma conta falsa. Entretanto, respondi<br />

à mensagem e combinámos um encontro na<br />

terça-feira seguinte.<br />

Ficou surpreendida com o convite?<br />

Não. A primeira coisa que lhe disse foi: “Não me venha<br />

falar da TAP!”. Foi logo a minha reação. Mas não fiquei<br />

surpreendida. Porque, em 2021, eu já tinha sido abordada<br />

para vir para a <strong>ANACOM</strong> como administradora,<br />

a convite do Mário Centeno. Mas, na altura, não me<br />

fez sentido. A minha avó tinha acabado de falecer e eu<br />

tinha vindo para Portugal abrir o laboratório em economia<br />

experimental no ISEG (o XLAB - Behavioural<br />

Research Lab). Estava muito entusiasmada com o projeto,<br />

não era o momento.<br />

Mas desta vez acabou por aceitar…<br />

Pedi algum tempo para pensar, para conversar com algumas<br />

pessoas que foram fundamentais neste processo,<br />

entre as quais a antiga presidente, a professora Fátima<br />

Barros, uma pessoa que conheço há muitos anos,<br />

e o próprio Mário Centeno. Porque precisava muito de<br />

perceber o porquê deste convite.<br />

E o que é que ele lhe disse?<br />

Ele acha que as pessoas que foram para fora e que têm<br />

grande transversalidade são muito úteis à causa pública.<br />

O que nós podemos trazer para estas organizações<br />

é a mente aberta, não estarmos fechados numa única<br />

visão. E eu sempre me dediquei a projetos que me<br />

apaixonam, de diferentes áreas de intervenção pública.<br />

O Álvaro Beleza costuma dizer que eu não sou uma<br />

pessoa agarrada ao poder. E é verdade. Tenho um olhar<br />

científico sobre as coisas. Olho para elas. Questiono.<br />

Questiono muito. Muitas vezes não estou satisfeita<br />

com determinadas práticas. Julgo que foi isso que eles<br />

viram em mim.<br />

O facto de ser independente também ajudou?<br />

Sou apartidária. Tenho, claro, as minhas convicções,<br />

mas vejo o mundo com o meu olhar científico. Nunca<br />

tive problemas em criticar quem quer que seja. E o<br />

Mário Centeno foi muito justo, muito correto. Porque<br />

eu escrevi vários textos no Expresso com muitas críticas<br />

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