Culpa e graça – Paul Tournier – Cap
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Então é apenas isto. As pessoas que fazem o maior e mais sincero esforço<br />
moral para serem fieis a Deus em suas condutas, são as mesmas que têm a<br />
maior dificuldade em admitir que Deus também concede, generosamente a<br />
sua <strong>graça</strong> para os outros que não se privaram do prazer e da extravagância,<br />
quer mentindo, trapaceando ou prejudicando seu semelhante.<br />
Então é apenas isto! Esta é a reação do irmão mais velho do “filho pródigo”<br />
que fica indiferente às festividades e, portanto, se exclui do grande júbilo<br />
divino (Lucas 15.24-32). Uma trágica inversão das coisas! O filho que<br />
havia sido prudentemente submisso entra em conflito com o pai pela<br />
primeira vez e enfurece-se. Encontramos a mesma reação rancorosa entre<br />
os trabalhadores da vinha, na parábola, que resmungam contra o patrão<br />
quando vêm que ele pagou ao companheiro que trabalhou apenas uma hora<br />
fresca da tarde, a mesma quantia que receberam pelo trabalho no calor do<br />
dia (Mateus 20.1-16). Como Jesus compreende o coração humano!<br />
Os melhores servos de Deus não estão livres de uma tendência de revolta<br />
semelhante. Jonas é o meu profeta preferido! Em uma época em que estava<br />
ressentido, Jonas sentiu que Deus o chamava para ir e pregar o<br />
arrependimento a Nínive, uma cidade consumida pela imoralidade, uma<br />
grande cidade onde havia mais de cento e vinte mil homens que não sabiam<br />
discernir a mão direita da mão esquerda, e também muitos animais (Jonas<br />
4:1-11). Com o pressentimento que Deus, na Sua bondade, poderia perdoar<br />
Nínive, Jonas tenta escapar da ingrata incumbência e foge em um navio.<br />
A Jonas, no entanto, não faltava fé, nem coragem, nem humildade e,<br />
quando a tempestade chega, ele confessa fracamente sua fé e seu erro em<br />
querer esconder-se da face de Deus. Diz a seus companheiros de navio:<br />
“Levantai-me e lançai-me ao mar e o mar se aquietará” (Jonas1. 12). Todos<br />
sabem como o peixe enorme salvou a Jonas, engolindo-o e expelindo-o na<br />
praia no terceiro dia. Um fantástico símbolo que o próprio Jesus Cristo<br />
interpretou, como se fosse um analista junguiano, antevendo aí sua própria<br />
morte e ressurreição (Lucas 11. 29-32).<br />
Jonas, então, decide ser obediente e Deus até transforma sua desobediência<br />
em benefício, pois, o milagre do qual foi objeto impressiona os habitantes<br />
de Nínive e diz: “Ainda quarenta dias e Nínive será destruída!” (Jonas 3.4).<br />
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