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Culpa e graça – Paul Tournier – Cap

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O ponto central da questão é, ao que me parece, que a palavra “confissão”<br />

tem o sentido de um evento psicológico para o médico e, para o clérigo,<br />

denota um ato de piedade. Nós, médicos, consideramos que a confissão está<br />

ocorrendo toda vez que há aquele estremecimento de vergonha e<br />

humilhação que surge pelo reconhecimento daquilo que o homem sabe ser<br />

culpado e que ocultou até aquele momento com a maior determinação. De<br />

maneira que, o que caracteriza a confissão é um estar da mente.<br />

Por outro lado, a confissão clerical é uma cerimônia, uma ocasião separada<br />

precisamente para este fim e na qual o penitente, assim como o clérigo,<br />

sabe que estão procedendo a um ato solene. Tenho o maior cuidado de não<br />

desaprovar o valor religioso e também psicológico desta solenidade, que<br />

muitas pessoas da igreja precisam para se garantir do perdão de Deus <strong>–</strong> me<br />

refiro aos protestantes, pois, para os católicos esta é uma solenidade natural.<br />

Porém os teólogos concordam conosco a respeito da importância doestado<br />

mental. A contrição pode estar ausente por ocasião da confissão a um<br />

pastor ou padre no confessionário e, contudo, pode ser a motivação de uma<br />

pessoa em meu consultório, mesmo sem que perceba que está de fato<br />

fazendo uma confissão. Nota-se isto particularmente entre os católicos<br />

praticantes, que fazem regularmente a confissão ritual com absoluta<br />

sinceridade, com fé e com toda a humildade e contrição possíveis, sem<br />

sentirem, contudo <strong>–</strong> ou pelo menos raramente <strong>–</strong> a mesma perturbação que<br />

sentem em meu consultório.<br />

Isto acontece porque o transcorrer da entrevista faz despertar,<br />

inesperadamente, um sentido profundo de consciência e um<br />

reconhecimento que nunca pensaram possíveis durante uma confissão. E<br />

isto, sem que haja da parte deles qualquer intenção de esquivar-se da<br />

sinceridade e honestidade da confissão. Preparam-se conscientemente para<br />

o ato da confissão, sem que ocorra em suas mentes aquilo que tão<br />

espontaneamente ocorre quando estão em meu consultório.<br />

Vou mais longe: um paciente não religioso, no consultório de um psicólogo<br />

igualmente não religioso, pode passar exatamente pela mesma experiência,<br />

pela mesma emoção, confessando aquilo de que é culpado e sentir o mesmo<br />

alívio. É isto que o próprio Jesus Cristo diz na parábola do fariseu e do<br />

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