Culpa e graça – Paul Tournier – Cap

Capítulo 23
O caminho da confissão
Somos os instrumentos da graça salvadora quando prescrevemos os
remédios que Deus nos deu, quando manejamos o bisturi, quando usamos
as forças da natureza sobre as quais Deus nos deu domínio (Gênesis 1.28) e
quando trabalhamos para o desenvolvimento da ciência, para o qual Ele
próprio nos chamou (Gênesis 2.19). Novamente, somos os instrumentos de
Sua graça quando as doenças da mente encontram alívio através das nossas
técnicas em psicologia.
Mas devemos permanecer em silêncio quando a questão é o mal supremo
do homem? Sua maior angústia? Sua doença existencial? Quando a questão
é o sentimento de culpa, com o qual todos os colegas não crentes estão
envolvidos nos dias de hoje, movidos, como são, pela compaixão e piedade
pelo sofrimento humano?
Devemos esconder a grande resposta que Deus nos dá porque os teólogos
nos acusam de exceder nossa função de médicos e de invadir seu território?
(39). Não! Se o fizéssemos, nos tornaríamos como um clínico que hesita em
extirpar um tumor muito avançado porque o cirurgião tem maior
experiência com o bisturi.
Vocês perceberam que não podemos entrar no campo da psicologia sem,
cedo ou tarde, chegarmos, imperceptivelmente, mas inexoravelmente,
mesmo antes de nos darmos conta, aos problemas humanos relativos ao
significado da vida, perdição e salvação, desespero e esperança, o
sentimento moral da culpa e o perdão de Deus. Não há fronteira. O Dr.
Naeder, em especial, trouxe à luz o tema da transição inevitável da
psicoterapia para a cura da alma. Inesperadamente, durante uma consulta,
sentimos nas palavras do paciente uma ênfase, uma pausa, ou até mesmo
sem nenhum sinal aparente que, na realidade, ele está em um momento de
confissão, que esta vivendo a metanoia, que está cônscio de seu sentimento
de culpa, que está amedrontado pela sua infelicidade e precisa de uma
resposta.
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