13.04.2013 Views

Culpa e graça – Paul Tournier – Cap

Culpa e graça – Paul Tournier – Cap

Culpa e graça – Paul Tournier – Cap

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Considere a parábola do fariseu e do publicano no templo (Lc 18:9-14). O<br />

fariseu enumera todas as suas virtudes, mas não o faz com arrogância,<br />

como em geral se pensa; ele não fala de suas boas obras como se fosse<br />

mérito pessoal, mas sim como <strong>graça</strong>s recebidas de Deus. O publicano bate<br />

no peito, dizendo: “Ó, Deus, tem misericórdia de mim pecador”. Jesus<br />

conclui: “Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não<br />

aquele...” Estas palavras também podem ser entendidas no sentido que<br />

acabei de dar. “Digo-vos...” é o comentário de um observador que quer<br />

dizer: “eis como se passou”.<br />

O mesmo pode ser dito quanto ao perdão aos nossos semelhantes. Na<br />

oração do Pai Nosso Jesus nos convida a pedir o perdão de Deus, “assim<br />

como perdoamos aos nossos devedores” (Mateus 6:12). E Ele ainda<br />

continua: “Porque se perdoardes aos homens as suas ofensas, também<br />

vosso Pai celestial vos perdoará a vós; se, porém, não perdoardes aos<br />

homens as suas ofensas, também vosso Pai não vos perdoará as vossas<br />

ofensas” (Mateus 6:14-15). Estas palavras poderiam ser entendidas como<br />

uma condição, um direito ou a necessidade de merecimento através do<br />

perdão que nós mesmos damos aos outros.<br />

Que tragédia isso seria para nós! Que fardo pesaria sobre nós! Somente os<br />

psicólogos sabem como o perdão é raro e como a agressividade pode estar<br />

reprimida por trás do falso perdão. Aqui temos, novamente, todo o drama<br />

do moralismo. Pois, se o perdão aos outros é a condição para termos o amor<br />

de Deus, então precisamos aparentar perdoar, precisamos chegar a<br />

extremos para perdoar, precisamos camuflar ou reprimir nossa<br />

agressividade com palavras bondosas. A agressividade reprimida corrói o<br />

interior da alma, torna-se a fonte de falsas culpas e ansiedade mórbida;<br />

impede o caminho para a salvação.<br />

Este pensamento me faz arrepiar. Que drama este! Por que falso amor, por<br />

que falsos perdões entre os homens <strong>–</strong> particularmente nas igrejas e nas<br />

famílias religiosas <strong>–</strong> e por que ansiedades são responsáveis estas<br />

repressões! Ansiedades das quais somos testemunhas secretas! E tudo isto<br />

acontece porque aquele trecho do ensinamento de Cristo foi visto por um<br />

lado infantil. A Deus foi creditado um amor condicional que coloca de<br />

4

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!