Culpa e graça – Paul Tournier – Cap

pecados por uma quarta parte do dia (Neemias 9:3). Mostra-nos Esdras, que
poderia perfeitamente se orgulhar das boas obras que fez por inspiração de
Deus, identificando-se com seu povo e suspirando: “Meu Deus! Estou
confuso e envergonhado, para levantar a ti a minha face... Desde os dias de
nossos pais até aos dias de hoje, estamos em grande culpa...” (Esdras 9:6-
7).
O livro dos Salmos nos passa, em tom vibrante, a experiência do rei Davi e
de muitos outros crentes. Ao entrar em meu consultório, um paciente me
diz que estava lendo o Salmo 32 e que isto o fez decidir a vir e se confessar
(Salmo 32.1,3,5):
“Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo
pecado é coberto... Enquanto eu me calei, envelhecera meus ossos,
pelo meu bramido em todo dia...Confessei-te o meu pecado, e a
minha maldade não encobri. Dizia eu: “Confessarei ao Senhor as
minhas transgressões; e Tu perdoaste a maldade do meu pecado”.
A Bíblia é viva. E é viva, sobretudo, pelos exemplos daqueles que acharam
o caminho do perdão e que nos fazem, por nossa vez, seguir seus passos.
Mostra-nos a multidão que foi a João Batista “confessando os seus
pecados” (Mateus 3.6), e viram nesta grande onda de arrependimento o
sinal anunciando o ministério de Jesus Cristo que estava se aproximando.
O apóstolo Tiago escreve: “Confessai as vossas culpas uns aos outros, e
orai uns pelos outros, para que sareis; a oração feita por um justo pode
muito em seus efeitos” (Tiago 5.16). Estas últimas palavras indicam o
sentido inteiramente prático da sua exortação, a importância prática que
caracteriza a totalidade de sua epístola. Ele, portanto, não pretende formular
uma condição para o perdão e para a cura, mas sim expressar uma verdade
experimental que era muito espontânea e muito comum na igreja primitiva.
O Dr. Bovet relata-nos uma série de passagens bíblicas nas quais ocorre a
experiência do arrependimento sem confissão.
Mas se a confissão não é uma condição, é um caminho que inúmeras
pessoas seguiram a seu tempo, sempre com o mesmo resultado. Eu próprio
tive, por um longo tempo, uma vida religiosa que era muito mais intelectual
e teórica; eu era um membro militante da igreja, realmente acreditava, não
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