Culpa e graça – Paul Tournier – Cap
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Mesmo com protestantes admito ter-me comportado, por um longo tempo,<br />
com timidez e vacilante, pelo meu embaraço (e isto, sem dúvida, devido à<br />
persistência de uma mentalidade tabu que nos faz, homens leigos, hesitar<br />
em ter qualquer envolvimento com coisas sagradas) diante do que estaria<br />
reservado para aqueles que foram ordenados oficialmente. Senti,<br />
claramente, que uma confissão autêntica pede necessariamente por uma<br />
resposta, por uma absolvição que eu ainda não ousava pronunciar<br />
explicitamente. Livrei-me disto lembrando-me de algumas promessas<br />
bíblicas sobre a fidelidade de Deus em perdoar todo aquele que admite seus<br />
erros, ou então, sugerindo à pessoa que se abriu com tanta confiança que eu<br />
gostaria de orar com ela de maneira a expressar, através do coração, nossa<br />
gratidão a Jesus Cristo pela sua obra de reconciliação.<br />
Tornei-me mais simples, mais verdadeiro, mais arrojado e isto por motivos,<br />
ambos, religiosos e psicológicos. Afirmações genéricas sobre o perdão de<br />
Deus não tem nem um pouco do efeito que possui uma palavra categórica,<br />
pessoal, individualizada, pronunciada com convicção, em nome de Deus e<br />
dirigida à pessoa que confessou seu pecado. Na verdade, a vontade de Deus<br />
produz alívio e a firme convicção pessoal de que o pecado confessado foi<br />
lavado. Se, por timidez, eu fugir a esta tarefa, sou eu que me faço culpado<br />
perante Deus, por esquivar-se da missão que Ele me confiou e da<br />
responsabilidade com a qual me encarregou ao induzir esta pessoa a tomarme<br />
como testemunha de sua confissão.<br />
Um pastor me contou recentemente que, após uma pregação pública que<br />
fez, um padre jesuíta perguntou-lhe em particular o seguinte: “Quem, na<br />
sua opinião, pastor, está autorizado a dar a absolvição?”. Meu amigo<br />
respondeu abrindo o evangelho. Após sua ressurreição, Jesus apareceu aos<br />
discípulos e lhes disse: “A paz seja convosco; assim como o Pai me enviou,<br />
também eu vos envio a vós. E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e<br />
disse-lhes: recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados<br />
lhes serão perdoados; e àqueles a quem retiverdes lhes serão retidos” (João<br />
20: 21-23).<br />
Assim, numa igreja que professa não ter outra regra senão a da revelação<br />
bíblica, é óbvio que é o Espírito Santo quem dá aos homens a autoridade<br />
para absolver em nome de Deus. Todos aqueles a quem Jesus deu Sua paz<br />
são enviados, por sua vez, para transmiti-la a todos os homens. Este é o<br />
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