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Culpa e graça – Paul Tournier – Cap

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Para o ser humano, preso nesse drama da culpa, um Deus que não perdoa<br />

não pode ser entendido como um Deus que ama incondicionalmente; e um<br />

Deus que dita condições para o Seu perdão faz o mesmo com relação ao<br />

Seu amor. Sob o ponto de vista das Escrituras, Ele seria um Deus que teria<br />

renegado a si próprio: “Se formos infiéis, Ele permanece fiel <strong>–</strong> não pode<br />

negar-se a si mesmo”, escreve São <strong>Paul</strong>o (II Timóteo 2:13). Não é por<br />

nossa causa, mas por causa dele mesmo é que Deus nos perdoa. Eis o que o<br />

profeta Isaías descreve, com todo vigor, quando ouviu Deus dizer a ele:<br />

“Eu, eu mesmo, sou o que apaga as tuas transgressões por amor de mim, e<br />

dos teus pecados não me lembro” (Isaías 43:25).<br />

Portanto, insisto na palavra “incondicionalmente”, porque ela me parece<br />

muito importante na prática. A maioria das pessoas admite que, se há um<br />

Deus, Ele deve nos amar. Mas existe uma diferença decisiva entre um<br />

grande amor, ou um amor muito grande, ou um amor muito, muito grande e<br />

um amor que é incondicional. É à distância que existe entre o que é finito,<br />

seja tão grande quanto for, e o que é infinito.<br />

Veja o que acontece com os nossos pacientes. Frequentemente são levados<br />

por um forte impulso interno a aumentar sua agressividade contra nós ou<br />

insistem em suas dúvidas e negativismos, para nos testar. Eles encontram<br />

em nós um tipo de atitude compreensiva, cheia de amor que eles tanto<br />

precisam. Mas, até onde vai esse amor? É natural que nós mesmos,<br />

enquanto eles mostram-se confiantes em nós, permaneçamos generosos e<br />

agradáveis. Mas isso mudaria se eles se mostrassem insolentes,<br />

incomunicativos, céticos? Se fossem rudes, passassem dos limites, se<br />

prolongassem a consulta após a hora?<br />

É como um desafio que nos lançam e que levam cada vez mais adiante,<br />

como que para ver se finalmente não atingem mesmo um limite, se não<br />

perdemos o humor, zangamos com eles, se os julgamos e perdemos a<br />

paciência. É preciso ficar claro que as barreiras são enormes. Eles têm que<br />

saber se a ponte sobre a qual estão aventurando as suas vidas é firme. Da<br />

mesma maneira, para testar uma ponte nova, passa-se uma fila de grandes<br />

vagões. Quando um paciente pergunta: “Você me perdoaria se eu<br />

cometesse o suicídio?”, isto quer dizer: “Você tem um amor sem restrições<br />

por mim?”.<br />

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