Culpa e graça – Paul Tournier – Cap
Culpa e graça – Paul Tournier – Cap
Culpa e graça – Paul Tournier – Cap
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Mas Nínive não foi destruída; arrependeu-se e proclamou um jejum, do rei<br />
até o povo e o rebanho! E Deus perdoou.<br />
Mas Jonas não é capaz de perdoar a Deus pela Sua bondade, uma bondade<br />
que desmente a ameaça que ele havia sido encarregado de revelar. Jonas<br />
tem uma grande depressão nervosa. “Peço-te, pois, Senhor”, diz ele, “tirame<br />
a minha vida, porque melhor me é morrer do que viver” (Jonas 4.33).<br />
Felizmente, Deus era capaz de reanimar sua moral. Ele fez brotar uma<br />
aboboreira e depois a fez murchar. O desgosto de Jonas atinge o clímax e,<br />
então, Deus diz a ele: “Tiveste compaixão da aboboreira... e não hei eu de<br />
ter compaixão de Nínive?”.<br />
Temos hoje uma enorme necessidade de recuperar o espírito que levou<br />
Calvino ao grito apaixonado: “Apenas a Deus seja a glória!”. Após estes<br />
quatro séculos nos encontramos em um período sombrio da História, um<br />
período em que a igreja contribui mais para a opressão das almas do que<br />
para sua libertação. Fomos lançados nesta situação, no mínimo, desde o<br />
começo do século e, desta vez, foram os psicólogos que deram o grito de<br />
alerta. E já, teólogos <strong>–</strong> protestantes, bem como católicos e ortodoxos <strong>–</strong><br />
esforçam-se vigorosamente contra a deturpação moralista e ativista da<br />
igreja.<br />
Contudo, noto uma maior proporção de pessoas oprimidas por esta<br />
deturpação entre os protestantes do que entre os católicos. O cumprimento<br />
do dever, a renúncia a todos os prazeres, boas ações, o esforço diário para<br />
subjugar suas falhas, a vergonha de seus instintos, o medo da repressão, do<br />
julgamento, da incompreensão <strong>–</strong> tudo isto é substituído pelo prazer do amor<br />
de Deus. E, por todos estes pontos, pode-se permanecer continuamente em<br />
erro, para sempre sem esperança, com frustração após a frustração,<br />
constantemente e, a cada vez mais, atormentado pela culpa.<br />
Este moralismo multiplica a frustração, pois a desesperança arrasta para a<br />
derrota. É precisamente deste inexorável círculo vicioso que Deus nos livra<br />
pelo seu perdão incondicional. É trágico ver aqueles que acreditam nele e<br />
que procuram servi-lo, levando vidas esmagadas por esta sinistra espiral <strong>–</strong><br />
ainda pior do que aqueles que não creem <strong>–</strong> até não serem mais capazes de<br />
amar um Deus que lhes parece tão duro e tão cruel.<br />
11