Culpa e graça – Paul Tournier – Cap
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<strong>Cap</strong>ítulo 22<br />
Amor incondicional<br />
Foi isto que Jesus nos mostrou na Parábola do Filho Pródigo. Quando o<br />
filho volta para casa, o pai já está à sua espera. Já o havia perdoado. Ele vê<br />
o filho ao longe, corre ao seu encontro abraçando-o fervorosamente, antes<br />
mesmo que o filho tenha tempo de dizer qualquer coisa. O gesto é<br />
espontâneo e incondicional.<br />
Durante o exílio, atormentado pelo sofrimento e pelo remorso, o filho<br />
imaginava seu pai zangado, aborrecido. Perguntava-se como poderia tocar a<br />
sua piedade e, então, elaborou uma confissão submissa, servil. Uma<br />
confissão que levaria seu pai a perdoá-lo. No entanto, nunca sonhou com<br />
um perdão total que fosse capaz de restabelecer a sua condição de filho,<br />
com todas as honras. Pensava simplesmente em ser aceito como um servo.<br />
Aconteceu justamente o contrário. Ele fez a sua confissão, mas seu pai já o<br />
havia perdoado, acolhido em seus braços, de maneira que aquela confissão<br />
tornou-se uma resposta ao abraço dopai, ao invés de ser sua pré-condição<br />
para a acolhida.<br />
A proclamação de Jesus Cristo é sobre o amor de Deus, um amor que<br />
abrange tudo e é incondicional. E aqui nós nos encontramos com um dos<br />
mais importantes temas da psicologia moderna. Freud mostrou que o<br />
sentimento de culpa é despertado na mente da criança ainda pequena pelo<br />
medo de perder o amor dos pais; mostrou também que todos os traumas ao<br />
longo de sua vida mental estão ligados com a dúvida de ser amado.<br />
A criança sente que esta sendo rejeitada e que não é mais amada. A<br />
ansiedade da culpa é justamente esta ansiedade de não ser mais amada. A<br />
criança tem a sensação que o amor dos pais é condicional, de que irão amála<br />
apenas se ela for boazinha.<br />
A verdade é que, no zelo de educá-la e protegê-la, os pais dão à criança<br />
essa impressão. Às vezes chegam mesmo a dizer coisas como: “Eu não vou<br />
mais gostar de você. Você tem sido má”. Não é verdade. Eles amam o filho,<br />
mesmo nos maus momentos, e o próprio cuidado que tomam ao protegê-lo<br />
dos perigos do cotidiano é, em si mesmo, uma garantia de seu amor. E,<br />
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