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Culpa e graça – Paul Tournier – Cap

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Talvez eu possa dizer que somos como o porteiro no jardim de Deus,<br />

postados no portão para saudar aqueles que procuram entrar. No jardim há<br />

vários caminhos e indicações para os visitantes. No entanto, foi preciso<br />

primeiro terem passado pelo portão e nós termos sido sinceros ao mostrar<br />

que este era o caminho para suas vidas errantes e que é realmente nesse<br />

jardim que acharão a resposta para seus problemas.<br />

Entretanto, muitos médicos ficam constrangidos por esta função de<br />

mediadores, para a qual não foram preparados, nem pela universidade nem<br />

pela igreja. Não sabem como definir ou praticar este ministério espiritual. A<br />

tragédia é que, frequentemente, são justamente os médicos crentes os mais<br />

tímidos. Enquanto que os colegas ateus não se constrangem em discutir<br />

assuntos religiosos com seus pacientes, os crentes mostram-se prudentes e<br />

reservados, por uma espécie de respeito excessivo pelo sagrado ou um<br />

medo de ser acusado por roubar um sacerdócio que não é deles.<br />

Mas, o clero também é frequentemente detido por uma ansiedade<br />

semelhante, a de não exceder os limites de suas funções, de imitar o médico<br />

e o psicólogo que não são. Um campo de responsabilidade comum a ambos,<br />

como este da culpa, que pertence ao mesmo tempo ao psicólogo e à<br />

religião, assemelha-se, de certo modo, à terra-de-ninguém, uma zona<br />

evacuada, respeitada pelos dois exércitos como que para evitar o conflito.<br />

A comparação é, sem dúvida, muito militar, pois, se por um lado, médicos e<br />

teólogos têm um ligeiro medo recíproco, por outro, respeitam-se, admiramse<br />

e raramente brigam! Digamos melhor, ficam em lados opostos da rua e, à<br />

distancia, cumprimentam-se cortesmente. Mas o medo de interferir com o<br />

território alheio impede-os de chegarem ao mesmo caminho, como se diz,<br />

de se misturarem com as outras pessoas, de entrarem pela vida, a vida como<br />

é vivida, a realidade da vida que constantemente traz problemas espirituais,<br />

mas não em termos dogmáticos ou rituais. A imensa e desamparada<br />

multidão passa pelo leito da rua, entre estes dois bem intencionados grupos<br />

de observadores que se contemplam mutuamente de seus pontos de vista<br />

particulares, tanto psicológicos como eclesiásticos. Portanto, parece-me<br />

importante fixar um lugar de encontro, um ministério espiritual universal,<br />

isento de todas particularidades denominacionais e de qualquer espírito<br />

faccioso. E isto, acredito, tem uma base bíblica.<br />

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