O CIVISMO FESTIVO NA BAHIA - Programa de Pós-Graduação em ...
O CIVISMO FESTIVO NA BAHIA - Programa de Pós-Graduação em ...
O CIVISMO FESTIVO NA BAHIA - Programa de Pós-Graduação em ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Certamente, havia divergências sobre os mo<strong>de</strong>los norteadores das mudanças<br />
urbanas, mas o consenso residia na idéia <strong>de</strong> que cabia ao hom<strong>em</strong> letrado anunciá-los e<br />
<strong>em</strong>preendê-las. As diferentes posições <strong>de</strong> Teodoro Sampaio e Braz do Amaral acerca<br />
da referência do Rio <strong>de</strong> Janeiro como parâmetro <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> são ilustrativas.<br />
Teodoro Sampaio trabalhou nas reformas urbanísticas do Rio <strong>de</strong> Janeiro e voltou à<br />
Bahia após <strong>de</strong>senten<strong>de</strong>r-se com políticos cariocas, mas s<strong>em</strong>pre citava as reformas da<br />
capital fe<strong>de</strong>ral como ex<strong>em</strong>plo a ser seguido.<br />
Já Braz do Amaral expressava um certo <strong>de</strong>sprezo por aquela cida<strong>de</strong>. Em carta<br />
en<strong>de</strong>reçada ao redator do jornal O Diário da Bahia, <strong>em</strong> 1918, ele comparou o Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro às "<strong>de</strong>cahidas <strong>de</strong> rua", pois "é alegre, t<strong>em</strong> apparencia bonita mas al<strong>em</strong> dahi<br />
nada mais lhe peça para ver, se não quiser ficar triste". E prosseguiu: "como as<br />
raparigas <strong>de</strong> vagabundag<strong>em</strong> se enfeita, pinta e perfuma, cobre <strong>de</strong> jóias e leva bello<br />
vestido que encobre mal carnes apetitosas e rosadas." Braz do Amaral julgou que "há<br />
assim cousas aqui [ Rio <strong>de</strong> Janeiro], e são quasi todas tão sedutoras nas apparencias<br />
como <strong>de</strong>gradante para qu<strong>em</strong> as vê com atenção". E concluía num tom ufanista como<br />
um exilado: "eu também digo, <strong>de</strong>ante do que estou a ver e aprouver. Nasci baiano!<br />
colono <strong>de</strong> paulista e carioca é que não posso ser. Pedirei que meus ossos volt<strong>em</strong> à<br />
minha terra quando um dia for livre, quando não mais prêsa <strong>de</strong> ban<strong>de</strong>irantes".4<br />
Para Teodoro Sampaio, o Rio <strong>de</strong> Janeiro era o referencial <strong>de</strong> progresso, Braz<br />
do Amaral o tinha como ex<strong>em</strong>plo da <strong>de</strong>generação dos costumes. Apesar das<br />
divergências, estavam <strong>em</strong>penhados na proposição <strong>de</strong> soluções para os probl<strong>em</strong>as<br />
sociais <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong>, Salvador, que tentava inserir-se, efetivamente, na nova or<strong>de</strong>m<br />
republicana.<br />
Neste capítulo me proponho a analisar como a intelectualida<strong>de</strong> local concebia a<br />
mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> baiana nos primeiros anos da República; pretendo investigar como os<br />
17