O CIVISMO FESTIVO NA BAHIA - Programa de Pós-Graduação em ...
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A participação das "senhoras", "senhorinhas" e das "famílias" nas celebrações<br />
do Dois <strong>de</strong> Julho era s<strong>em</strong>pre elogiada pela imprensa. Ainda <strong>em</strong> 1903, o Diário <strong>de</strong><br />
Notícias <strong>de</strong>stacou o <strong>de</strong>sfile das pranchas enfeitadas e "automóveis que percorreram as<br />
ruas centrais lotados com famílias" .31 Estes <strong>de</strong>sfiles eram mencionados pelos<br />
jornalistas como a "nota chic" da festa, um toque <strong>de</strong> sofisticação.32 Em 1921 a "nota<br />
curiosa" das com<strong>em</strong>orações do Dois <strong>de</strong> Julho foram as "novas pranchas" que<br />
percorreram a cida<strong>de</strong> iluminada conduzindo "famílias".33<br />
As pranchas ornamentadas - que também faziam parte dos <strong>de</strong>sfiles<br />
carnavalescos e das festas religiosas populares, como a do Senhor do Bonfim - foram<br />
incorporadas nas primeiras décadas do século XX aos cortejos do Dois <strong>de</strong> Julho,<br />
constant<strong>em</strong>ente mencionadas como o transporte das "senhoras" e "famílias",<br />
incluindo-se como mais uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocupação do cenário festivo. Entretanto,<br />
além <strong>de</strong> alternativa <strong>de</strong> locomoção, as pranchas e principalmente os automóveis, eram<br />
<strong>em</strong>bl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> urbanida<strong>de</strong>, mo<strong>de</strong>rnização nas ruas <strong>em</strong> dias <strong>de</strong> festa. Sendo novida<strong>de</strong><br />
inacessível à maioria dos baianos, o automóvel serviu para <strong>de</strong>marcar distinções sociais.<br />
Na interpretação <strong>de</strong> Gilberto Freyre, nos anos pós-abolição da escravatura, aqueles<br />
brasileiros "brancos livres, já seguros <strong>de</strong> sua condição social e cultural, parec<strong>em</strong> ter se<br />
requintado <strong>em</strong> hábitos como que afirmativos <strong>de</strong> urna situação, além <strong>de</strong> social, cultural,<br />
dificil <strong>de</strong> ser atingida <strong>de</strong> repente por gente <strong>de</strong> outras origens" .34 Ou seja, as elites<br />
brancas procuravam símbolos que comprovass<strong>em</strong> sua "superiorida<strong>de</strong>" econômica,<br />
social e cultural. Pois do ponto <strong>de</strong> vista meramente jurídico passaram a ser iguais aos<br />
negros. O automóvel parece ter sido muito útil neste esforço: diferenciava aqueles que<br />
ocupariam as avenidas e as ruas, <strong>em</strong> uma palavra, o espaço público republicano.<br />
A presença das "senhoras" e "senhorinhas", quase s<strong>em</strong>pre brancas, era referida<br />
enquanto ocupantes que <strong>em</strong>belezavam os automóveis e as pranchas, ou <strong>de</strong>sfilavam<br />
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