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O CIVISMO FESTIVO NA BAHIA - Programa de Pós-Graduação em ...

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Neste sentido, os estudantes da Escola Normal, do Liceu <strong>de</strong> Artes e Oficios e<br />

da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina, portando seus estandartes, tinham participação<br />

disciplinadora assegurada no <strong>de</strong>sfile, afinal representavam a ciência, prerrogativa do<br />

mundo civilizado na época. Em 1903, os alunos <strong>de</strong> Medicina publicaram um panfleto<br />

no Diário <strong>de</strong> Notícias convocando todos os acadêmicos baianos para uma reunião no<br />

salão principal da faculda<strong>de</strong> para tratar <strong>de</strong> "assuntos concernentes à tradicional festa do<br />

Dois <strong>de</strong> Julho." A fim <strong>de</strong> elogiar a participação <strong>de</strong>les no cortejo do Dois <strong>de</strong> Julho, A<br />

Tar<strong>de</strong> avaliou <strong>em</strong> 1920 que "a mocida<strong>de</strong> está convicta que serv<strong>em</strong> à opinião pública<br />

bestializada, um condimento picante e, capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar os sentimentos" <strong>de</strong> amor à<br />

pátria.22 Para A Tar<strong>de</strong>, da "opinião pública bestializada" podia fazer parte qu<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>monstrasse na festa comportamentos distintos dos exibidos pelos acadêmicos.<br />

O <strong>de</strong>staque dos acadêmicos <strong>de</strong> Medicina no cortejo não era s<strong>em</strong> razão. Fazia<br />

parte <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado contexto histórico. Nos últimos anos do século XIX e início<br />

do século XX, a medicina passa a ser legitimada enquanto "tutora da socieda<strong>de</strong>" e<br />

"saneadora da nacionalida<strong>de</strong>" na socieda<strong>de</strong> brasileira. Na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Cl<strong>em</strong>entino<br />

Fraga, médico <strong>em</strong> 1914, a medicina se ocupava do "amparo às coletivida<strong>de</strong>s", "do<br />

aperfeiçoamento das raças" da "formação da nacionalida<strong>de</strong>", e mais ainda, do "<strong>de</strong>stino<br />

do mundo".23 Como observou Lilia Schwarcz, cabia aos médicos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

recomendação <strong>de</strong> hábitos alimentares e <strong>de</strong> higiene corporal até a prescrição <strong>de</strong><br />

costumes e comportamentos a<strong>de</strong>quados aos lugares públicos.24 Deste modo, os<br />

<strong>de</strong>sfiles do Dois <strong>de</strong> Julho permitiam o exercício <strong>de</strong> uma certa pedagogia civilizatória,<br />

que através da exibição no espaço público <strong>de</strong> tipos sociais vistos como merecedores <strong>de</strong><br />

crédito e prestígio, a ex<strong>em</strong>plo dos médicos, buscava homogeneizar mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />

conduta urbana.<br />

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