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MARCUS, o imortal<br />
também <strong>em</strong> mim está o curioso, o encarregado, aquele que não recebe or<strong>de</strong>ns, aquele<br />
que <strong>de</strong>seja saber se é a parte <strong>de</strong> sangue mourisco que corre <strong>em</strong> minhas veias que me dá<br />
vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> tirar fora a cabeça do papa. Othman cobrira sua esposa com um manto que<br />
lhe valeu a alcunha <strong>de</strong> Mulher Escarlate, tendo todo o po<strong>de</strong>r do seu lado.<br />
- L<strong>em</strong>bro que Alberto falou, certa vez, sobre um er<strong>em</strong>itério catalão on<strong>de</strong> foram<br />
encontrados corpos cobertos <strong>de</strong> ouro e jóias. Disse que uma mulher tinha sido retirada<br />
do chão e a supunham princesa árabe. Parece que os vilões carregaram a estátua, pois o<br />
corpo está rígido e negro, e o carregam no verão para uma floresta próxima a uma fonte<br />
qualquer. Depois é levado <strong>de</strong> volta para O<strong>de</strong>ilia ou Lívia, uma antiga construção castelã,<br />
<strong>em</strong> princípio <strong>de</strong> set<strong>em</strong>bro – Pietro <strong>de</strong> Ferrara nos informou ex<strong>em</strong>plarmente. Bernard<br />
esboçou aquilo que costumamos chamar <strong>de</strong> sorriso e falou:<br />
- É isso. É justamente isso que me faz ir atrás. Estamos <strong>em</strong> Set<strong>em</strong>bro. Essa é a época.<br />
Acredito que terei novida<strong>de</strong>s então. Quando entrei para a Ord<strong>em</strong> ela já estava per<strong>de</strong>ndo<br />
sua meta original. Proteger os peregrinos que iriam para Jerusalém. Mas, eu acreditava<br />
ainda nisso. Éramos os Pobres Cavaleiros <strong>de</strong> Cristo. Eu pessoalmente acompanhei<br />
aquele maluco do Francisco <strong>de</strong> Assis <strong>em</strong> sua investida ingênua com os <strong>em</strong>ires, se b<strong>em</strong><br />
que ele n<strong>em</strong> atinasse para o fato. Ele não conseguia me enxergar tsnto que estava<br />
tomado pelas inspirações divinas. Tolices!<br />
- E após? Os muçulmanos retomaram a Terra Santa, não é?<br />
- Sim. Retomaram. Aí a se<strong>de</strong> foi estabelecida <strong>em</strong> Chipre. Com administração <strong>em</strong> França.<br />
Felipe, o Rei <strong>de</strong> França, invejoso, começou a perseguir o Grão Mestre dos T<strong>em</strong>plários,<br />
com medo <strong>de</strong> seu po<strong>de</strong>r crescente e influência. Não queríamos obe<strong>de</strong>cer a nenhum<br />
senhor Feudal.<br />
- Mas, por que isso tudo? Que eu saiba os T<strong>em</strong>plários não <strong>de</strong>têm riquezas, n<strong>em</strong> bens,<br />
n<strong>em</strong> nada... – perguntou Alexandrino. Nisso uma porta bateu ruidosamente e legamos o<br />
barulho aos restos <strong>de</strong> vento ou a algum animal perdido.<br />
- Você t<strong>em</strong> razão. Agora, estamos sob perseguição constante. Provavelmente ser<strong>em</strong>os<br />
excomungados. Para mim, tanto faz.<br />
Vimos que era meia–noite. Ninguém mais na estalag<strong>em</strong>. Até o dono fora se<br />
<strong>de</strong>itar, resmungando. Então uma voz e várias vozes passaram a <strong>de</strong>clamar na rua. Havia<br />
um canto triste, enfadonho e soturno. Várias pessoas pediram para que viéss<strong>em</strong>os<br />
dormir, pois as almas já estavam caminhando nas ruas. Olhamo-nos curiosamente. A<br />
música <strong>em</strong> homofonia subia e <strong>de</strong>scia cantando as seguintes frases:<br />
“Queima sobre suas testas, ó esplêndida serpente! Ó, mulher <strong>de</strong> pálpebras<br />
azuis, curva-te sobre eles. Com o Deus e o Adorador eu nada sou; eles não me vê<strong>em</strong>.<br />
Eles estão como que sobre a terra; Eu sou o Céu, e não há outro Deus além <strong>de</strong> mim e<br />
meu senhor Hadit.”<br />
- Meus soldados caminham pelas ruas, - disse Bernard. – Sairei com eles.<br />
Os olhos cinzentos <strong>de</strong> Bernard se apertaram. Ele caminhou para a noite, com<br />
aquele seu passo pesado, aten<strong>de</strong>ndo ao chamado, e acompanhou a multidão <strong>de</strong><br />
pessoas .<br />
OPUS 10<br />
Saímos, também nós, curiosos contumazes, atrás da procissão. Subimos<br />
montes, relvas, caímos <strong>em</strong> charcos, a escuridão não nos assustava, pois sabíamos <strong>de</strong><br />
seus segredos. Os únicos probl<strong>em</strong>as eram buracos e ribanceiras. O perigo estava ali.<br />
A procissão seguia com tochas e cantorias. Vislumbrávamos, na clarida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
archotes, o corpo robusto <strong>de</strong> Bernard e seus soldados. Havia um aroma pestilento<br />
crescendo no ar. Eram nossas referências fugidias. O odor era muito ruim. Não se sabia<br />
<strong>de</strong> on<strong>de</strong> procedia. Mas, seguíamos céleres e perceb<strong>em</strong>os que a falange se reunia no<br />
interior <strong>de</strong> uma cratera na rocha. Certamente uma gruta. Ninguém a nada nos impedia.<br />
Era como se fizéss<strong>em</strong>os parte da procissão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seus primórdios, mas a sugerir pela<br />
roupa das pessoas, eles caminhavam há meses. Entramos na gruta e pisamos um riacho.<br />
Pietro aproveitou para refrescar pés e mentes. De lá <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro uma voz se fazia ecoar<br />
entre pedras e flamas ar<strong>de</strong>ntes.<br />
- Agora, portanto, Eu sou conhecida por vós por meu nome Nuit. Para ele, me farei<br />
conhecer através <strong>de</strong> um nome secreto que darei oportunamente.<br />
- Ele qu<strong>em</strong>? – perguntou Alexandrino.<br />
- Não sei – tive que respon<strong>de</strong>r rapidamente s<strong>em</strong> querer per<strong>de</strong>r nada daquele discurso.<br />
- Posto que Eu sou o Infinito Espaço e as Infinitas Estrelas <strong>de</strong> lá, fazei vós também<br />
Coelho De Moraes 17