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Baixe em PDF - Página de Ideias

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MARCUS, o imortal<br />

povoações e então, as províncias se rebelam.<br />

- Concordo com essa visão, Marcus. O cenário é claro, a divisão do Império <strong>em</strong> Oci<strong>de</strong>nte<br />

e Oriente, tantas vezes realizada e <strong>de</strong>sfeita, vai se impondo <strong>de</strong>finitiva – Alberto Magnus<br />

disse, encostando as pontas dos <strong>de</strong>dos, mão contra mão. – E o antigo Império Romano,<br />

sab<strong>em</strong>os todos, hoje é a Igreja Católica Apostólica Romana, her<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> tudo, para o<br />

b<strong>em</strong> e para o mal. O Oci<strong>de</strong>nte transforma-se, lentamente, <strong>em</strong> um mosaico <strong>de</strong> reinos<br />

que já eram chamados <strong>de</strong> "povos bárbaros" , os invasores bárbaros, como diz Aquino. E<br />

eles vão assimilando <strong>em</strong> suas tradições valores romanos – houve uma pausa <strong>em</strong> que ele<br />

pensava - o cristianismo, se é que pod<strong>em</strong>os chamar o cristianismo <strong>de</strong> valor romano.<br />

- A nossa época se caracteriza como uma era <strong>de</strong> obscurantismo, perseguições, essa<br />

mistura dos místicos e <strong>de</strong> religiosida<strong>de</strong>s disparatadas, s<strong>em</strong> ajustes, s<strong>em</strong> controle – falou<br />

o monge <strong>de</strong> Cister – e não duvido que quando passar tudo isso, os her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> todo<br />

esse pensamento não venham, com arrogância, implantar um novo nascimento das<br />

artes, da literatura, <strong>de</strong> tudo, enfim... sob o domínio <strong>de</strong> reis e lor<strong>de</strong>s, longe do po<strong>de</strong>r das<br />

nossas igrejas benditas.<br />

- Igreja bendita fica por sua conta – replicou Magnus - Essa carga <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezo pelo<br />

novo e pela pesquisa não lhe cai b<strong>em</strong>... por cerca <strong>de</strong> mil anos se divulga um esplendor<br />

do mundo greco-romano e seu, digamos, renascimento. E o que t<strong>em</strong>os aqui, se b<strong>em</strong><br />

observarmos? Epid<strong>em</strong>ias tidas como punição divina. Guerras incessantes contra mouros,<br />

contra islâmicos, contra feiticeiros e alquimistas? On<strong>de</strong> a aplicação diária <strong>de</strong> um<br />

conhecimento útil às pessoas? E esse profundo sentimento <strong>de</strong> medo... n<strong>em</strong> a morte<br />

t<strong>em</strong><strong>em</strong> tanto quanto o simples estar vivendo s<strong>em</strong> saber para on<strong>de</strong> ou por quê.<br />

- É impossível ignorar os produtos culturais, mesmo os subvencionados pela própria<br />

Igreja.<br />

- Ela é a principal culpada pelo retrocesso da cultura – gritou Vermont, fazendo balançar<br />

a mesa, estrepitosamente. Vermont era Franciscano e não suportava mais as<br />

perseguições.<br />

- Mas, é também responsável pela conservação <strong>de</strong> quase tudo o que se preservou do<br />

pensamento clássico greco-romano – explicou o cisterciense. No mundo predomina o<br />

campo, e a agricultura <strong>de</strong> subsistência...<br />

- ... os monastérios, esses refúgios rurais on<strong>de</strong> os religiosos, longe da vida mundana,<br />

buscam a purificação da alma – falou <strong>em</strong> tom certamente zombeteiro Siger <strong>de</strong> Brabant.<br />

- Mesmo nesse caso... <strong>de</strong>vo dizer, com todo respeito ao nosso guerreiro... a Igreja<br />

representa sobrevivência da cultura. Ali, os monges, enquanto rezam e trabalham...<br />

- Ora et labora – falou Tomas Aquino b<strong>em</strong> baixinho para o meu lado – esse monge é um<br />

beneditino disfarçado, acredite...<br />

- ...se <strong>de</strong>dicam à religião, à organização do trabalho rural e da cópia, à compilação, à<br />

tradução, ao comentário <strong>de</strong> textos da Antiguida<strong>de</strong>.<br />

- Não pod<strong>em</strong>os esquecer dos árabes... – dizia Bacon – nunca! Para além do mundo<br />

cristianizado, há nas regiões árabes e islâmicas um pensamento filosófico e cientifico.<br />

Não se po<strong>de</strong> esquecer disso!<br />

- O rei é uma pessoa santa – começou o senhor <strong>de</strong> Brabant - assim como a água, porque<br />

está livre <strong>de</strong> toda contaminação. O Rei é amável por natureza, e, ao falar, produz uma<br />

bela vibração, como a da água corrente - . Estava claro que Siger se <strong>de</strong>liciava com a<br />

jocosida<strong>de</strong>.<br />

- O que você que dizer com isso, Siger ? – Tomás perguntou. O Monge <strong>de</strong> Cister olhava<br />

com certa mofa.<br />

- Deixa que eu continue a minha história... Simplesmente por ver, tocar ou ouvir tal<br />

pessoa santa, qualquer ser vivo se purifica, assim como uma pessoa se purifica pelo<br />

contato com a água pura. Deste modo, uma pessoa santa, tal qual um lugar sagrado,<br />

purifica todos aqueles que entram <strong>em</strong> contato com ela, uma vez que s<strong>em</strong>pre canta as<br />

glórias do Senhor. – De repente ele se exaltou – Quer<strong>em</strong> nos fazer enten<strong>de</strong>r que uma<br />

aliança entre papa e rei signifique que o último é santo? Se n<strong>em</strong> o primeiro o é? Essas<br />

alianças serv<strong>em</strong> para eliminar focos <strong>de</strong> pensamentos alternativos e novos... enquanto<br />

seus monges copiam e comentam conceitos da antiguida<strong>de</strong>... t<strong>em</strong>os os árabes com o<br />

conceito puro e vivo para usarmos já... e além do mais... esses comentários, como o<br />

senhor <strong>de</strong> Cister fala, são comentários com certa tendência... dirigidas por superiores que<br />

comentarão <strong>de</strong> acordo com o interesse do papado... Por acaso se esquec<strong>em</strong> o episódio<br />

<strong>de</strong> Guilherme <strong>de</strong> Baskerville? – ele olhou a todos, principalmente ao monge enquanto<br />

durava o silêncio - Por acaso esquec<strong>em</strong> o lugar <strong>em</strong> que estamos e as influências que<br />

Coelho De Moraes 51

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