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MARCUS, o imortal<br />
- Já t<strong>em</strong>os probl<strong>em</strong>as com a Igreja, que diz não ser cristão ter lucros, e ainda por cima<br />
t<strong>em</strong>os que lidar com um bastardo <strong>de</strong>sses ciganos – disse um <strong>de</strong>les, que imediatamente<br />
caiu por terra, esfaqueado por Andreas. Os outros senhores da Guilda se armaram, mas<br />
ao mesmo t<strong>em</strong>po quinze outros ciganos tiraram punhais árabes e traçaram <strong>de</strong>senhos no<br />
ar.<br />
- O probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong>ssa gente é não saber lutar e n<strong>em</strong> usar o facão... o outro probl<strong>em</strong>a, o<br />
do mercado, é <strong>de</strong> vocês, cristãos ou não – disse Andréas – e, o nosso probl<strong>em</strong>a já é<br />
outro. O que sei é que há falta <strong>de</strong> terra para todos... pelo menos para nós, expulsos <strong>de</strong><br />
todos as terras <strong>em</strong> que aportamos. Falta dinheiro. Todo mundo, inclusive vocês, se<br />
reg<strong>em</strong> por costumes e tradições. Nós também. - Andréas olhou-os fixamente e<br />
continuou, como últimas palavras – Guard<strong>em</strong> suas armas. Não sairão vivos daqui.<br />
Provavelmente as burras <strong>de</strong> couro que carregam têm muita moeda. Precisar<strong>em</strong>os <strong>de</strong>la.<br />
Esse é o <strong>de</strong>stino.<br />
Ato contínuo, uma coisa que não durou mais do que dois minutos, os senhores<br />
da Guilda <strong>de</strong> Tapeceiros jaziam mortos junto à fogueira.<br />
Apesar disso tudo a colônia não entrava <strong>em</strong> conflito com o estalaja<strong>de</strong>iro, mas<br />
isso foi explicado, pois o estalaja<strong>de</strong>iro s<strong>em</strong>pre se servia <strong>de</strong> alguma ciganas e pagava<br />
b<strong>em</strong>. No entanto, alguns dias mais tar<strong>de</strong>, Alexandrino caiu <strong>em</strong> febres e teve <strong>de</strong>lírios<br />
inesquecíveis. Pústulas e ardências fluíam <strong>de</strong> seu corpo. Ele relatava, gorgolejando, fatos<br />
incompreensíveis e estranhos. Notamos todos que as mulheres, a partir daquele dia,<br />
<strong>de</strong>sapareceram da estalag<strong>em</strong>. No dia anterior, ou melhor, na noite anterior, Alexandrino<br />
tinha por sua vez, <strong>de</strong>saparecido também. Quando retornou estava confirmado <strong>em</strong> males<br />
e miasmas. Ele citava um ritual da prosperida<strong>de</strong>, e, ao mesmo t<strong>em</strong>po falava dos<br />
prazeres e dos gozos com as mulheres. Saltava na cama e gritava na noite. Foram quatro<br />
dias <strong>de</strong> sofrimentos.<br />
Em uma <strong>de</strong>ssas investidas da febre e dos tr<strong>em</strong>ores, encharcado <strong>de</strong> suor, olhos<br />
abertos olhando o nada, ele passava a cantar cantigas profanas claramente provençais.<br />
Observando atentamente a tudo aquilo Roger Bacon sugeriu que usáss<strong>em</strong>os<br />
conhecimentos ocultos. Ele não o faria. Sua obra tinha uma linha que exaltava o fazer do<br />
ser humano comum. Mas ele sabia que versávamos sobre o oculto e sugeriu alguma<br />
coisa que elevasse o ânimo do companheiro. Algo positivo. Algo que o retirasse das<br />
trevas <strong>em</strong> que estava e propôs que trabalháss<strong>em</strong>os naquele caso à luz do dia. Ele e o<br />
estalaja<strong>de</strong>iro garantiram o segredo e a tranqüilida<strong>de</strong>.<br />
LaCordaire insinuou que um traçado estelar <strong>de</strong>ntro do Ritual <strong>de</strong> Prosperida<strong>de</strong>,<br />
coisa já citada pelo próprio Alexandrino, po<strong>de</strong>ria alimentar <strong>de</strong> bons augúrios a alma <strong>de</strong><br />
Alexandrino, que agora chorava.<br />
- Muito b<strong>em</strong> – eu disse - Cuid<strong>em</strong>os disso agora. Us<strong>em</strong>os os ensinamentos do Ritual, com<br />
base no conhecimento Oci<strong>de</strong>ntal... ao menos, suas bases principais – concluí. Em<br />
seguida, Pietro passou a fazer o que chamamos <strong>de</strong> invocação a Júpiter, usando<br />
simbologias romanas. Alexandrino estava inundado <strong>de</strong> suor e Urraca cuidava <strong>de</strong>le com<br />
carinho. Pietro traçou, no chão do último quarto, virado para o sol que nascia, um<br />
Heptagrama - uma estrela <strong>de</strong> sete pontas.<br />
Em seguida, e Roger Bacon anotava <strong>em</strong> seu ca<strong>de</strong>rninho coberto com pele <strong>de</strong><br />
urso o que via e ouvia, s<strong>em</strong> assombros ou qualquer tipo <strong>de</strong> manifestação preconceituosa,<br />
Pietro traçou a estrela na ord<strong>em</strong> indicada, com um bastão. Esse bastão era usado<br />
raramente e não tinha nada <strong>de</strong> especial. Era um pedaço <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira queimada que mais<br />
parecia uma haste grossa <strong>de</strong> carvão. Aliás, a mão <strong>de</strong> Pietro ficou muito preta <strong>de</strong> tanto pó<br />
que saia espontaneamente do bastão. Esse bastão teria efeitos sobre o imaginário<br />
coletivo. Um el<strong>em</strong>ento catalisador <strong>de</strong> atenções. Usou o bastão como b<strong>em</strong> podia usar o<br />
<strong>de</strong>do indicador da mão direita. O efeito s<strong>em</strong>pre é o mesmo.<br />
- É que não t<strong>em</strong>os um <strong>de</strong> ferrite – ele disse para Bacon. O bastão i<strong>de</strong>al é um <strong>de</strong> ferrite,<br />
se pudéss<strong>em</strong>os magnetizá-lo com um ímã – ele explicou, i<strong>de</strong>ntificado com Bacon que a<br />
tudo anotava como ele.<br />
Pietro, então, pediu que todos fechass<strong>em</strong> seus olhos e passass<strong>em</strong> a visualizar<br />
aquela estrela <strong>de</strong>senhada no chão, agora flutuando no ar, <strong>de</strong> maneira a parecer que a<br />
mesma é feita <strong>de</strong> luz. – Uma luz azul-clara – ele pediu e ainda <strong>de</strong>u uma ord<strong>em</strong> a Urraca,<br />
– Vá e pegue incenso. Antes <strong>de</strong> dar continuida<strong>de</strong> vamos alterar nossas consciências com<br />
um pouco <strong>de</strong> incenso – e enquanto ela voltava, – aproveita e traz o pequeno gongo que<br />
LaCordaire trás amarrado <strong>em</strong> sua bolsa. - Ao mesmo t<strong>em</strong>po que retraçava a estrela no<br />
chão, Pietro recitava: “ EL ZARAIETOS PANTOKRATOR”.<br />
Coelho De Moraes 38