15.04.2013 Views

Baixe em PDF - Página de Ideias

Baixe em PDF - Página de Ideias

Baixe em PDF - Página de Ideias

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

MARCUS, o imortal<br />

dificulda<strong>de</strong>s <strong>em</strong> acompanhar o curso <strong>de</strong> Teologia e esteve prestes a abandonar o<br />

convento. Mas durante um sonho, como ele mesmo precisou, os anjos e a Virg<strong>em</strong> terlhe-iam<br />

aparecido.<br />

Acredito que já falei sobre tudo isso. A m<strong>em</strong>ória me falha, como se quisesse<br />

reprisar os fatos. Meus <strong>de</strong>dos grossos escrev<strong>em</strong> mal. Mas, continuo: Brotam daí as<br />

faculda<strong>de</strong>s intelectuais <strong>de</strong> que se julgava insuficient<strong>em</strong>ente dotado. Des<strong>de</strong> então, Alberto<br />

vai impor-se e mesmo espantar qu<strong>em</strong> o ouvisse pela sua m<strong>em</strong>ória e habilida<strong>de</strong> dialética.<br />

Qu<strong>em</strong> o conheceu não o reconhecia. Sócrates já dizia que o filósofo t<strong>em</strong> que ter<br />

m<strong>em</strong>ória. É necessário ter m<strong>em</strong>ória.<br />

Mais tar<strong>de</strong> Alberto é enviado, na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lector, a diversos conventos da<br />

ord<strong>em</strong>, a Hil<strong>de</strong>sheim, Fribourg, <strong>de</strong>pois Regensburg (Ratisbona), on<strong>de</strong> permanece dois<br />

anos.<br />

Após a morte do prior <strong>de</strong> sua ord<strong>em</strong>, Alberto é l<strong>em</strong>brado para postos e<br />

encabeçar capítulos. É tornado lector <strong>em</strong> Estrasburgo. Depois é enviado a Paris, quando<br />

ministra aulas para os jovens que ali ingressam e é on<strong>de</strong> começa a nossa história<br />

propriamente dita. Paris é a capital intelectual do Oci<strong>de</strong>nte. Também já me reportei a<br />

este assunto, acredito.<br />

Uma multidão não habitual <strong>de</strong> auditores assistia aos seus cursos, obrigando-o a<br />

lecionar fora dos edifícios, na praça Maubert, por ex<strong>em</strong>plo. Este sucesso é <strong>de</strong>vido <strong>em</strong><br />

parte ao seu prestígio pessoal, <strong>em</strong> parte ao assunto escolhido : a explicação <strong>de</strong><br />

Aristóteles, no comentário <strong>de</strong> Pedro Lombard.<br />

É fato que ainda <strong>em</strong> 31 a Igreja proibia a explicação pública <strong>de</strong> Aristóteles,<br />

porque os postulados do seu sist<strong>em</strong>a do mundo são contrários ao dogma cristão. Muita<br />

gente acha isso. A gran<strong>de</strong> obra <strong>de</strong> Alberto foi a adaptação a este dogma das obras <strong>de</strong><br />

Aristóteles, que, <strong>de</strong> resto, só eram conhecidas através <strong>de</strong> traduções latinas, realizadas<br />

segundo as cópias árabes fort<strong>em</strong>ente influenciadas por Avicena e Averróis, dois filósofos<br />

neo-platônicos, como não canso <strong>de</strong> dizer nestes textos.<br />

Alberto regressa a Colônia. Organiza o Studium Generale, instituto <strong>de</strong> estudos<br />

superiores. Entre os seus alunos o nosso segundo mestre, Tomás <strong>de</strong> Aquino e, com ele,<br />

Ulrich Engerbert <strong>de</strong> Estrasburgo. O primeiro, vindo do sul da Itália, vai tornar-se o seu<br />

discípulo preferido, seu amigo e continuador da obra filosófica, cujos materiais vai<br />

organizar num sist<strong>em</strong>a coerente, que será a principal forma <strong>de</strong> filosofia cristã daí <strong>em</strong><br />

diante ; Ulrich <strong>de</strong> Estrasburgo, amigo muito íntimo também, <strong>de</strong>dica-se mais ao estudo<br />

das ciências.<br />

Para essa reunião na estalag<strong>em</strong> Ulrich não compareceu, pois substituía Alberto na<br />

direção da ord<strong>em</strong> e nas conversações iniciais para a construção da catedral <strong>de</strong><br />

Estrasburgo.<br />

OPUS 37<br />

- A minha família queria que eu me tornasse um estadista, um militar... nunca pensaram<br />

que eu viesse a ser um fra<strong>de</strong>, muito menos Dominicano. Tive que fugir <strong>de</strong> casa para<br />

po<strong>de</strong>r seguir o que meu coração mandava – e rimos bastante junto às <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong><br />

Tomás. - Meu pai ficou furioso. Mandou seus mais fiéis servidores a Nápoles, para trazerme<br />

<strong>de</strong> volta. Como o superior do convento sabia do plano, n<strong>em</strong> sei como, ele me enviou<br />

a Paris. Inútil: os <strong>em</strong>issários <strong>de</strong> meu pai me alcançaram e me trouxeram prisioneiro.<br />

Tomás pareceu mergulhar na febre daquela época e uma névoa <strong>de</strong> l<strong>em</strong>branças<br />

passou por sua cabeça. Ele reprisava momentos <strong>em</strong> que estava calmamente instalado <strong>em</strong><br />

Roccasseca.<br />

- Escolhi a Ord<strong>em</strong> dos Dominicanos, pois eu não queria ficar trancado numa cela e<br />

afastar-me do mundo. Ao contrário!, o que eu mais <strong>de</strong>sejava era difundir a fé cristã. E os<br />

dominicanos eram os gran<strong>de</strong>s pregadores daquele t<strong>em</strong>po – Tomás andou pela sala, como<br />

s<strong>em</strong>pre, pousando a mão sobre os móveis negros, sobre o espelho, sobre os pequenos<br />

frascos, como se cada objeto o levasse a uma época ou carregasse sua m<strong>em</strong>ória para as<br />

estradas corretas. Muita vez pousou a mão sobre nossas cabeças, s<strong>em</strong> <strong>em</strong>itir qualquer<br />

som, como se nos abençoasse. - Para difundir uma fé, e combater os que não a aceitam<br />

ou <strong>de</strong>la duvidam, os heréticos; o primeiro passo é conhecer os fundamentos <strong>de</strong>ssa fé.<br />

Nada po<strong>de</strong> ficar <strong>de</strong> fora, mesmo que você não concor<strong>de</strong> com outros estudiosos, da<br />

mesma forma que eu luto contra Averroistas , por ex<strong>em</strong>plo, s<strong>em</strong> no entanto me<br />

transformar <strong>em</strong> guerreiro alucinado. Eu estudo Averróis para combatê-lo.<br />

A silhueta <strong>de</strong> Tomás <strong>de</strong>senhou-se contra a janela aberta, por on<strong>de</strong> fina brisa<br />

Coelho De Moraes 82

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!