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MARCUS, o imortal<br />
senhores <strong>de</strong>veriam agra<strong>de</strong>cer pelas sugestões aqui contidas... são sugestões que<br />
permitirão que homens e mulheres tenham uma vida mais saudável...<br />
- É claro que quer<strong>em</strong>os a comunhão... mas não com um fim <strong>em</strong> si, pois sab<strong>em</strong>os que o<br />
produto <strong>de</strong>ssa comunhão é uma possível gravi<strong>de</strong>z... – esclareceu Tomasina - ... não<br />
pod<strong>em</strong>os querer a comunhão como <strong>de</strong>votas, n<strong>em</strong> como se fosse a nossa condição<br />
obrigatória... quer<strong>em</strong>os a comunhão, sim... mas que não seja nada profundo a ponto <strong>de</strong><br />
nos trazer a gravi<strong>de</strong>z e que não seja o t<strong>em</strong>po todo, <strong>de</strong>svalorizando o que sentimos e nos<br />
pondo <strong>em</strong> riscos <strong>de</strong> concepção...<br />
- Na verda<strong>de</strong> – opinei – a Igreja as quer grávidas, pois o controle é maior e mais eficaz.<br />
De outra forma, quanto maior o número <strong>de</strong> crianças, mais os senhores feudais terão<br />
braços para uso <strong>em</strong> suas terras... isso me parece claro...<br />
- Você está misturando tudo, Marcus, cuidado – foi a opinião <strong>de</strong> Borgausen – vá com<br />
mais calma. Política é uma cousa. Medicina é outra. Religião...<br />
- O engano é <strong>de</strong> vocês. Esses t<strong>em</strong>as todos se misturam. O fato é que isso é real – eu<br />
disse e vi Borgausen, Cantinpré e Thorndike conversar<strong>em</strong> a sós e balançar<strong>em</strong> suas<br />
cabeças <strong>em</strong> <strong>de</strong>saprovação. Por outro lado, as mulheres ampliavam seus discursos e<br />
discutiam ativamente aqueles pontos. Terminamos a noite ali, naquele estado <strong>de</strong> dúvida<br />
que torna a mente um tanto adoentada, sabendo que o assunto ainda merecia muito<br />
<strong>de</strong>bate e, permitindo o caminho das outras idéias que ainda viriam. A partir <strong>de</strong> então não<br />
mais veríamos as mulheres, que se preocupavam com seus afazeres da Lua Nova.<br />
Vimos a charrete <strong>de</strong> mulheres <strong>de</strong>saparecer nas brumas. Cães ladravam. Volta e<br />
meia um vulto passava sobre nossas cabeças e nos surpreendíamos pelo tamanho do<br />
pássaro. A<strong>de</strong>java com força e <strong>de</strong>sprendimento.<br />
Seriam As Aves <strong>de</strong> Aristófanes?<br />
Daquele dia <strong>em</strong> diante, os três rapazes que não concordaram com o discurso <strong>de</strong><br />
Mestre Alberto Magnus não apareceram mais para as aulas. Não estavam no burgo,<br />
tampouco. Na taberna não se ouviu mais falar <strong>de</strong>les e da universida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> moravam,<br />
soube-se que <strong>de</strong>sapareceram s<strong>em</strong> <strong>de</strong>ixar vestígios, ou melhor, os únicos vestígios<br />
<strong>de</strong>ixados eram suas roupas e livros que nos pareceram esquecidos nos quartos. A<br />
impressão é que <strong>de</strong>pois daquela noite eles não teriam retornado aos seus aposentos.<br />
Recebi, um dia, uma outra carta, escrita <strong>em</strong> papel pardacento, feito <strong>em</strong> casa,<br />
dizendo que sabiam do para<strong>de</strong>iro dos jovens. Carta s<strong>em</strong> assinatura.<br />
Especialmente naquela s<strong>em</strong>ana os ventos foram mais vigorosos e os animais se<br />
mostravam muito mais irritados. A poeira das ruas era tanta que impedia à pessoa andar<br />
nelas à noitinha.<br />
Minha opinião é que o mundo estava muito barulhento naqueles dias e o que eu<br />
mais ouvia eram gargalhadas esporádicas, perdidas e soltas, trazidas pelo vento... ecos<br />
<strong>de</strong> cavernas e murmúrios <strong>de</strong> árvores.<br />
Sonhava com Sonja, quase s<strong>em</strong>pre. E eram sonhos cálidos.<br />
OPUS 5<br />
A s<strong>em</strong>ana s<strong>em</strong> a presença das jovens era s<strong>em</strong>pre um período diferente. Após a<br />
interferência <strong>de</strong> Montpellier e as idéias expostas, perceb<strong>em</strong>os que Cantimpré e os outros<br />
se mostraram estranhos. Mas, naquela s<strong>em</strong>ana, n<strong>em</strong> a presença <strong>de</strong>les trouxe a relativa<br />
constância dos encontros. Os jovens haviam <strong>de</strong>saparecido completamente com uma<br />
certeza que caía como pedra. As notícias não eram claras. Muito boato e conversa solta<br />
dissipavam-se no interior das casas e albergues, junto a lareiras e círculos <strong>de</strong> pessoas<br />
medrosas.<br />
Todos, na verda<strong>de</strong>, sabíamos para on<strong>de</strong> iam as mulheres, mas notamos que<br />
várias vezes, <strong>em</strong> datas passadas, os três rapazes se ausentavam, no mesmo período,<br />
na s<strong>em</strong>ana negra, preferent<strong>em</strong>ente à noite e saíam com seus cavalos para a floresta.<br />
Da última vez, segundo a carta que eu recebera, eles saíram e la<strong>de</strong>aram carroças<br />
<strong>de</strong> soldados. Ou seja, nessa vez os estudantes pediram reforço policial. A polícia do clero.<br />
Suas manobras <strong>de</strong> espionag<strong>em</strong> pareciam bastante claras. Tirando a coincidência <strong>de</strong> que<br />
se escondiam sob as sombras da Lua Negra, os alunos nunca nos convidavam para essas<br />
investidas.<br />
Em geral, a s<strong>em</strong>ana negra, a s<strong>em</strong>ana s<strong>em</strong> as mulheres, era escolhida por nós,<br />
para experiências <strong>em</strong> laboratórios. Principalmente as experiências alquímicas, b<strong>em</strong> como<br />
estudo dos atributos das ervas e substâncias naturais <strong>de</strong> vários tipos. A busca do po<strong>de</strong>r<br />
oculto que faria uma substancia <strong>de</strong> se tornar curativa. Era até normal que, após a<br />
Coelho De Moraes 8