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MARCUS, o imortal<br />
suas mãos um dos extr<strong>em</strong>os da estrada, e o outro terminal – o que dava vazão aos rios,<br />
era mantido pelos monges, mas auxiliados pelos ciganos. Tudo aquilo a proteger uma<br />
fortaleza. A fortaleza do Fisher King, como diz<strong>em</strong> por aqui, assim mesmo, <strong>em</strong> inglês.<br />
- A coisa foi resolvida com a entrada <strong>de</strong> Brabant na história. N<strong>em</strong> b<strong>em</strong> chegou e partiu<br />
para aqueles lados, carregando pólvora e uma guarnição maior.<br />
- On<strong>de</strong> ele conseguiu pólvora?<br />
- Não sei... Cada lado – monges e Morgan - colocava barcos, charretes, <strong>em</strong> seu extr<strong>em</strong>o<br />
da estrada ou entrada <strong>de</strong> rio, fazendo com que cada um <strong>de</strong>les parecesse o dono<br />
<strong>de</strong>finitivo das linhas. Então partiram uns contra os outros, como se foss<strong>em</strong> duas<br />
máquinas, a correr<strong>em</strong> uma contra a outra.<br />
No meio do caminho – LaCordaire finalizou a fala <strong>de</strong> Pietro – De Brabant explodiu<br />
tudo e os dois lados ficaram s<strong>em</strong> saber mais o que fazer. Os dois lados eram per<strong>de</strong>dores.<br />
E mesmo <strong>de</strong>pois disso não ce<strong>de</strong>ram; cada um se retirou da luta carregando o melhor que<br />
po<strong>de</strong>, inclusive <strong>de</strong>struindo casas da colônia ou barcos.<br />
- O que vejo é que há um corpo-a-corpo pela supr<strong>em</strong>acia <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados po<strong>de</strong>res,<br />
agora concentrados nesta região. Não é à toa que sumida<strong>de</strong>s da religião, da magia, da<br />
ciência, da filosofia se encontram nessa pequena estalag<strong>em</strong> – falei.<br />
- Só que estão a fazer um barulho terrível e logo chamarão atenção para esse pobre local<br />
– disse Pietro.<br />
- Não há nenhuma trégua a ser pedida ou ser concedida. Até mesmo a pólvora chinesa<br />
teve sua utilida<strong>de</strong> nessa disputa; chegou a ser <strong>em</strong>pregada para eliminar oposições e<br />
d<strong>em</strong>onstrar um po<strong>de</strong>r maior, por parte <strong>de</strong> Siger, o que fez com que os outros grupos<br />
murchass<strong>em</strong> <strong>em</strong> seus i<strong>de</strong>ais.<br />
Isso só parece, caro Pietro. É apenas a imag<strong>em</strong> do que está por baixo. Uma ilusão<br />
construída. Um véu – continuei, após um gole <strong>de</strong> boa água. - Os grupos interessados<br />
estão por toda parte. Já estão por aqui, com espias e falsos amigos. Todo cuidado é<br />
pouco, agora. O papado se mostrou intransigente d<strong>em</strong>ais... teimoso e perigoso d<strong>em</strong>ais;<br />
tive acesso a documentos que mostram que a Inquisição está recru<strong>de</strong>scendo <strong>em</strong><br />
métodos e modos <strong>de</strong> investigação e... persuasão. Enquanto meios menos violentos, tais<br />
como o seqüestro, são notáveis pela engenhosida<strong>de</strong> e pela imoralida<strong>de</strong>. Mas, há<br />
também assassinatos.<br />
- Não é preciso dizer que os padres estão obrigando um e outro a saltar para a<br />
fogueira... por que tratariam o público com reverência ou bonda<strong>de</strong>? Enganar e sugar os<br />
inferiores nesta terra é consi<strong>de</strong>rado algo normal e as confrarias, paróquias, monastérios,<br />
são como um mercado persa... uma casa particular <strong>de</strong> jogos para os ricos, para car<strong>de</strong>ais,<br />
no qual o público faz as apostas <strong>em</strong> indulgências e um lugar no céu... e os po<strong>de</strong>rosos<br />
ajeitam as cartas.<br />
- Qu<strong>em</strong> mais está aí?<br />
- Magos e pensadores árabes – disse Pietro. Alguns já discutiram com Tomás <strong>de</strong> Aquino,<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo Averróis e você sabe como Tomás se dirige aos averroístas.<br />
Bateram à nossa porta. Era Siger. Pediu para entrar. Cumprimentou-me, tocando<br />
a testa com os <strong>de</strong>dos, rapidamente, e contou um resumo do resto <strong>de</strong> horas que passou<br />
ao lado dos T<strong>em</strong>plários, dias atrás. Ele afirmou que estados <strong>de</strong> proibição e estados <strong>de</strong><br />
mistérios darão resultados funestos e terríveis naqueles próximos anos. Alberto viria para<br />
falar comigo sobre o assunto.<br />
- Proibido! Inúmeros assuntos proibidos pularão <strong>em</strong> nossos colos <strong>em</strong> breve. O que parece<br />
é a aproximação <strong>de</strong> uma rachadura imensa entre os po<strong>de</strong>res pensantes e a Igreja – Siger<br />
falou b<strong>em</strong> alto. Ele adaptava-se a situações alternativas como um missionário, que na<br />
verda<strong>de</strong> era. Ele, Siger <strong>de</strong> Brabant, <strong>em</strong> uma terra <strong>de</strong> seres primitivos, <strong>de</strong> pensamentos<br />
basais, recusava-se a tornar-se um nativo, preservando sua integrida<strong>de</strong> ao custo <strong>de</strong><br />
estudos, alguma batalha e <strong>de</strong>savenças constantes com os superiores <strong>de</strong> sua ord<strong>em</strong>.<br />
- Muitos o admiram, - eu disse - e mesmo o amam.<br />
- Mas eu não tenho amigos íntimos e n<strong>em</strong> é bom que tenha; não há hom<strong>em</strong> que me<br />
trate apenas pelo primeiro nome, e n<strong>em</strong> serei amado por mulher... assim...<br />
completamente.<br />
- Todo mundo vai pensar duas vezes ao se aproximar, após ver como o senhor De<br />
Brabant maneja o escudo e as armas <strong>de</strong> guerra – disse LaCordaire, s<strong>em</strong>pre com a sua<br />
astuciosa sincerida<strong>de</strong> - Como seria <strong>de</strong> esperar, enfim, o senhor é uma massa <strong>de</strong><br />
excentricida<strong>de</strong>s.<br />
Siger <strong>de</strong> Brabant se retirou, <strong>de</strong>sejando uma boa noite.<br />
Coelho De Moraes 49