16.04.2013 Views

Mano - Unama

Mano - Unama

Mano - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

Tu, que vences o inverno, não vencerás a nossa tristeza, ó Força eterna,<br />

eterna criadora que foste para nós a Morte.<br />

Primavera, que mal te fizemos nós?<br />

Quanto mais bela e vicejante fores mais nos ressentiremos da tua crueldade.<br />

Criadora de lírios e de rosas, que mal te fizemos?<br />

Tudo que produzires e despertares será, para nós, motivo de melancolia,<br />

porque nos relembrará a traição do teu sorriso.<br />

Quando, na aragem das noites taciturnas, vier a nós o aroma das campinas,<br />

virá também a imagem do que se foi e nós, sentindo-o no perfume, amaldiçoaremos<br />

o teu poder maléfico, Primavera.<br />

Antes o inverno com os seus dias lacrimosos e as suas noites regeladas!<br />

Que nos importavam os rigores da ventania gemendo no escampo, a névoa<br />

álgida velando o arvoredo, os aguaceiros copiosos formando torrentes pelos<br />

caminhos, todo o cortejo lúgubre dessa funerária estação de morte se tínhamos<br />

conosco o filho amado, aquecendo-nos a alma, como a chama aquecia o corpo,<br />

participando do pão de nossa mesa, ele que era o nosso dia de amanhã, o nosso<br />

futuro, que rebentara em nossa velhice?<br />

E vieste, entraste-nos pela casa coberta de flores, como noiva, e levaste-o<br />

contigo escondendo-o na cova para sempre!<br />

O lavrador, que enterra a semente no alfobre, fá-lo para a Vida. E tu,<br />

Primavera, que fizeste do que levaste?<br />

Que dirão de nós os que virem de luto no festival da tua era, cobertos de<br />

crepe entre as tuas flores, chorando lamentosamente no coro de risos da Natureza?<br />

Quiseste uma flor nova e viera buscar a que tínhamos tão escondida e não<br />

temíamos a morte. E fomos traídos pela Vida, porque foste tu que no-lo roubaste,<br />

Primavera.<br />

Tu, que reenfolhas, troncos que o lenhador despreza na floresta tendo-os<br />

por mortos e apodrecidos; tu, que dás vida em flor aos pântanos, estagnados; tu,<br />

que realizas milagres de ressurreição em toda a natureza; tu, onipotente, tu,<br />

vivificadora; tu, antagonista da Morte; tu, inspiradora do Gênese; tu, que és o verbo<br />

de Deus, ó estação da benção! Tu, que és o raio do Sol dentro do qual erram em<br />

átomos as messes; tu, que és a Juventude, Primavera fecunda, flor da Eternidade,<br />

que mal te fizemos nós para que no entrasse pela casa coberta de flores, como em<br />

festa, para matar, com o teu veneno, o filho do nosso amor, consolação das nossa<br />

horas tristes e arrimo de nossa velhice?<br />

Por que nos traíste, Primavera, Vida da Natureza e Morte da Ventura nossa?<br />

CONTRASTE<br />

Quando o levaram de nós o estádio começava a encher-se para um dos<br />

mais renhidos jogos do campeonato sul-americano.<br />

Ao alto da muralha da mole atlética, trapejada a bandeiras e flâmulas, que<br />

espadanavam ao vento, borrifadas de chuva, apareciam os primeiros vultos.<br />

O movimento das duas ruas que se cruzam dissemelhava-se em contraste<br />

irônico. Em uma, o borborinho alacre da multidão desensofrida, que afluía ao<br />

espetáculo da luta: veículos e turba, pregões, estropeada de patrulhas, correrias de<br />

retardatários que se apinhavam tumultuosamente junto da bilheteira como se a<br />

quisessem tomar de assalto.<br />

13

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!