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Mano - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Cego que ficasse ver-te-ia do mesmo modo, como vejo a luz. És como um<br />

sentido novo em mim.<br />

E como não há de ser assim, meu filho, se continuas a viver comigo e,<br />

agora, mais do que nunca, és a razão de ser da minha vida!<br />

Pobre de mim! Como me iludo! Retratos. Que valem rastros de caminhantes<br />

numa estrada sem fim!<br />

Retratos... Miragens... Quando de vivos chamam-se lembranças, sendo<br />

como o teu não passam de saudades.<br />

LAMENTO<br />

Antes chorasses tu! Águas primaveris seca-as depressa o sol.<br />

A tua mocidade radiosa reagiria contra a tristeza e, ainda que, por vezes,<br />

turvasse o teu coração a nuvem de saudade a sombra seria de eclipse, e não de<br />

noite eterna.<br />

A alegria, própria da juventude, é lume que se não apaga.<br />

Abafem-no, embora! Quanto maior for o acúmulo de folhagem e troncos<br />

mais viva irromperá a chama vitoriosa.<br />

Nos carvões que vasquejam uma gota de orvalho é quanto basta para matar<br />

na cinza a brasa trêmula.<br />

O sol na primavera é vida; no inverno é morte.<br />

O que, em ti, faria nascer o esquecimento, em mim mais aviva a lembrança.<br />

O sol, em campo verde, fá-lo rebentar em flores; nos píncaros alpestres,<br />

fundindo a neve em torrentes, põe a descoberto abismos, desnuda alcantis,<br />

escorcha escarpas, todas as agruras e arestas da montanha merencória.<br />

Quando se é moço o tempo é medicina para as chagas do coração; na<br />

velhice...<br />

Que valem ruínas! Só resistem se as sustêm enliços de verdura, presilhas<br />

de hera que se emaranhe pelas frinchas; soltas, logo se esboroam.<br />

Antes chorasses tu!<br />

Um coração de moço, ainda na maior tristeza, se a alegria o ronda, iluminase<br />

e aquece-se.<br />

Em meu coração, se a alegria passa-lhe por perto, a saudade, que está sempre<br />

alerta, levanta-se como cão de guarda quando pressente alguém se aproximar.<br />

O que seriam risos em teus lábios correm-me em lágrimas dos olhos.<br />

Antes chorasses tu!<br />

Mal conhecias a vida e, com ânsia de novidades, depressa esquecerias o<br />

túmulo do morto.<br />

Eu...<br />

Que posso ver mais na vida se as lágrimas me empanam os olhos e o<br />

mundo me aparece, através do pranto, como a paisagem, em dia de chuva, nimbada<br />

pelas cordas de água.<br />

Antes chorasses tu!<br />

ESPERANÇA<br />

Será crível que ainda resistas ou dar-se-á que haja fantasmas de ilusões?<br />

Serás tu mesmo que ficaste à flor do túmulo, flutuando na morte, e que<br />

assim me apareces como sombra do que já não existe?<br />

Serás tu mesma, Esperança, que vens a mim do fundo da noite perpétua?<br />

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