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Mano - Unama

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— E mamãe?<br />

Respondi com o olhar.<br />

— Pois sim, concordou, suave: então também eu quero.<br />

www.nead.unama.br<br />

Todo o meu fôlego afluiu-me à garganta, sufocando-me.<br />

Ele, sentindo a minha angústia, sorriu-me confirmando o que dissera com<br />

um gesto de brandura.<br />

Caminhei para a porta. Antes, porém, de sair voltei-me. ele inclinara a<br />

cabeça e então vi as lágrimas da sua juventude, os seus sonhos desfolhando-se às<br />

gotas, todos os seus amores despedindo-se. Saí. O sacerdote entrou.<br />

Quanto tempo durou a confissão daquela alma em flor? Foi para o meu<br />

coração tão longo que ainda nele persiste e durará enquanto eu viver, durará como<br />

um remorso dentro da minha saudade; durará como espinho na flor da minha<br />

ternura.<br />

Quando o padre saiu, fui-me direito a ele. Chorava e sorria.<br />

Chorava como homem, com pena daquela vida talada em pleno viço. Sorria<br />

como sacerdote, por haver achado em anos tão tenros coração tão virtuoso.<br />

Então atrevi-me a tornar ao quarto e, ainda hoje, pensando nesse momento<br />

grandioso e horrível, hesito em decidir se fiz mal, se fiz bem: mal, levando àquela<br />

consciência, ainda clara, a certeza da morte; bem, preparando para Deus quem, já<br />

de partida, ainda nos iludia com a coragem e a robustez, ainda nos acariciava com a<br />

meiguice e, já desprendido da terra, de asas abertas para o vôo, ainda nos<br />

abraçava, animando aos que ficavam na vida, ele, que começava a morrer.<br />

E, ainda hoje, nos silêncios em que me encerro com minha alma, murmuro,<br />

em dúvida que me excrucia:<br />

“Quem sabe se o não entreguei cedo demais a Deus! É possível que se eu<br />

lhe não houvesse quebrado as forças da alma, se não houvesse, imprudentemente,<br />

substituído a Esperança pela Fé, deslocando-o da terra para o céu, ele resistisse e<br />

ainda vivesse conosco, amado e amando-nos”.<br />

Mas... E se, por descuido nosso, ele partisse sem a unção que salva?!<br />

Precipitei-me, talvez, mas foi ainda por amor, para que tua alma, meu filho,<br />

fosse, como foi, na tristeza daquela tarde lúgubre, direita e triunfante para o<br />

esplendor eterno, que é o próprio olhar de Deus.<br />

A MORTE<br />

Todos se acercaram do leito e ele, estranhando, talvez, o rosário de<br />

corações que assim o cingia, relanceava em volta lento, interrogativo olhar de<br />

espanto.<br />

Por vezes crispava-se-lhe, de leve, o rosto como se frisa com a aragem a<br />

superfície da água; as mãos moviam-se-lhe inquietas, contraindo, distendendo os<br />

dedos; o peito arfava-lhe opresso como se sustentasse um peso esmagador.<br />

Silêncio trágico continha a todos, suspensos.<br />

Que haveria? Por que tão atento o fitava o médico tomando-lhe<br />

obstinadamente o pulso?<br />

Eu sentia um perigo. Parecia-me vê-lo à beira de um abismo que ele tivesse<br />

de atravessar sobre estreita ponte frágil.<br />

De repente, agitando-se, abrindo um olhar imenso, perguntou em voz surda:<br />

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