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Mano - Unama

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www.nead.unama.br<br />

existisse? Fosse o Além o Nada, o inferno ou o Paraíso... Se fosse o Nada, todos<br />

viveriam a lamentar o perecimento, a destruição definitiva; se fosse o inferno, que<br />

dor saberem todos que os aguardava o tormento; se fosse o Paraíso, não haveria<br />

felicidade na terra porque, comparando a via contingente e sofredora com a delicia<br />

da existência paradisíaca, tudo fariam para desertar este mundo precário, com ânsia<br />

do outro, de eternidade feliz. E os berços, que se aureolam de sorrisos, cercar-seiam<br />

de lamentações, porque viver seria tanto como penar.<br />

Achas que Deus não é bom, porque não consente que o vejas. O nosso<br />

egoísmo é que nos agrava o sofrimento. Tu, em verdade, não choras o filho que<br />

deixou de viver, que está livre de todos os males que nos torturam: choras o filho<br />

que perdeste, o bem que te foi levado, o amor que te falta. Choras sobre ti mesma e<br />

julgas chorar sobre o seu túmulo.<br />

— E isto basta-te? Consola-te?<br />

— Sim, basta-me, consola-me como me basta, para consolação de tudo<br />

quanto tenho sofrido, a certeza, em que estou, de que Deus existe. E se tu invocas o<br />

espírito do morto é porque estás certas de que ele não desapareceu com a morte,<br />

não se desfez como o corpo e agora, mais do que quando convivia conosco, triunfal,<br />

puro e eterno, tão puro como o teu amor, em que ele se encarnou, e eterno, tão puro<br />

como a Essência a que regressou.<br />

— E achas que faço mal em trazê-lo assim enfeitado de flores?<br />

— Mal? Por que mal? É um culto e todos os cultos, quando neles há<br />

sentimento, como nesse em que pões toda a alma, são belos e dignos de respeito.<br />

Falo-te assim para que não chores tanto. Flores são carinhos; lágrimas são<br />

tormentos e, se ainda o chamas de filho e o queres venturoso, porque o hás de<br />

perturbar, entristecendo-o com tantas lágrimas?<br />

Flores, sim quantas queiras. O que a morte podia levar, levou. O que nos<br />

resta ficará conosco eternamente, a saudade, e chorá-lo é devolver ao coração as<br />

lágrimas que dele tiramos.<br />

SOMBRAS<br />

Que resulta da nossa aliança com a luz? Sombra, nada mais.<br />

Alegria é luz e assim como na maior claridade as sombras tornam-se mais<br />

negras, mais a tristeza se agrava se dela, em volta, a alegria exulta,<br />

O silêncio é alivio: calma. Na quietude em que me refugio chego a não<br />

acreditar na tua morte porque te sinto em mim, comigo, como se vivo foras.<br />

À noite as sombras não aparecem; todas se recolhem aos corpos que as<br />

expuseram. De dia, porém, destacam-se, prolongam-se com a terra.<br />

No apogeu meridiano, não suportando a claridade fúlgida, acolhem-se ao de<br />

que saíram, como se concentra na dor um coração ferido se, em torno dele, há<br />

expansões de vivida alegria.<br />

Felizmente, porém, o sol pouco se demora no zênite e logo que declina<br />

projetam-se, de novo, as sombras, até que todas se fundem em uma única, que é a<br />

noite.<br />

Isolo-me, não porque aborreça a vida e inveje a felicidade alheia, mas para<br />

forrar-me no alvoroço da alegria.<br />

Que o coração adormeça tranqüilamente, no silêncio, e sonhe, como quem<br />

dorme.<br />

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