16.04.2013 Views

Mano - Unama

Mano - Unama

Mano - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

Contam-se estrelas no céu, mortas há milênios, cuja luz, entretanto, ainda<br />

nos deslumbra e guia.<br />

Serás tu como tais astros?<br />

Se és, em verdade, a Esperança, por que me martirizas, tu, que sempre nos<br />

socorres como incentivo; tu, que nos manténs as forças para que prossigamos e, na<br />

tarde da desdita, promete-nos a manhã da felicidade?<br />

Se és tu, benéfica, porque te fazes cruel acordando-me a alma no coração<br />

com o timbre da sua voz, com o rumor dos seus passos como se o trouxesses do<br />

além em visita à minha saudade?<br />

A tais ruídos ilusórios, que se levantam no silêncio, encolho-me em mim<br />

mesmo, atento, e ouço-te que me dizes em segredo: “Ei-lo aí”.<br />

Volto-me comovido, certo de que o vou encontrar, e só, então, me convenço<br />

de que fui vítima do teu sortilégio, quem quer que sejas, tu, que me trazes em<br />

tormentos de enganos.<br />

Porque zombas de mim?<br />

Não! Não podes ser tu, Esperança. Tu morreste com ele, foste com ele<br />

enterrada, desapareceste para todo o sempre com a sua mocidade.<br />

E como me rondas anunciando-me a sua presença, como se fosse possível<br />

realizar o milagre dos milagres de arrancar do poder da morte a presa que ela<br />

arrebatou?<br />

Não! Não podes ser tu, deve ser o teu espectro que me obsidia, porque tu,<br />

Esperança, ainda que sejas mentirosa, as tuas mentiras têm sempre um fundo de<br />

verdade — são como as teias de aranha que, parecendo soltas no ar, prendem-se<br />

por fios tênues a ramos ou folhas de árvores, ou como as miragens que espelham<br />

visualidades no horizonte, mentiras que, entretanto, são projeções do real.<br />

Mas como podes tu reproduzir a morte, tirar vida da sepultura, ressuscitar o<br />

que jaz na terra?<br />

Não! Não és a Esperança, deves ser alguma advérsia.<br />

Vou caminhando descuidado. De repente ouço-te a voz tão perto como se<br />

saísse de mim próprio. Escuto e dizes-me que ele ainda vive, que o vou encontrar<br />

adiante, em ponto que costumava freqüentar.<br />

Aguardo-o, busco-o na multidão, procuro-o em certos grupos e avisto-o. É<br />

ele! É o seu corpo senhoril, é o seu andar garboso. Reconheço-lhe o trajo.<br />

Adianto-me com o coração contente e os olhos rasos de água e a ilusão, de<br />

súbito, desfaz-se.<br />

Só, então percebo o logro, lembrando-me da impossibilidade do seu retorno,<br />

porque ao destino para onde ele partiu vai-se por uma ponte estreita, que só dá<br />

passagem a um por um, e a fila não se interrompe como o curso dos rios.<br />

E como poderá ele regressar se, até hoje, desde que começou na vida a<br />

marcha para o abismo, nenhum outro conseguiu ainda remontar a correnteza perene?<br />

Se sei que mentes por que hei de dar ouvidos ao que me dizes? Se estou<br />

certo de que é falso tudo quanto me segredas, como me deixo enganar, ainda<br />

contando com o que me prometes?<br />

Por que hás de insistir na tortura? Por que assopras o cineral se não há nele<br />

centelha que reanime o lume?<br />

Que nos enganes com a vida, compreende-se a vida existe; mas que nos<br />

tentes iludir com a morte, é crueldade.<br />

Que posso eu esperar de onde tudo é nada?<br />

E, todavia, espero. Não me conformo com a idéia de que ele não tornará<br />

mais, nunca mais! Ao meu afeto.<br />

23

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!