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www.nead.unama.br<br />
Espero em vão, bem sei! Mas bendigo-te, Esperança, bendigo-te porque<br />
manténs a ilusão em minha alma.<br />
Se a Saudade não tivesse, para nutrir-se, o alimento que lhe atiras,<br />
devorava-nos o coração.<br />
Bendita sejas, pois, Esperança, doce e triste alívio de desventurados.<br />
ROSÁRIO<br />
Como tal ou qual a quem se houvesse rebentado um colar de preço e se<br />
pusesse a procurar as pérolas uma a uma por frinchas e taliscas, assim vivemos nos<br />
reunindo recordações a ver se recompomos no fio da memória, todos os episódios<br />
da sua existência efêmera, desde a hora feliz do seu nascimento, a pérola menor,<br />
até a cruz do doloroso instante.<br />
Cada vez que, a um de nós, ocorre um fato ajuntamo-lo às lembranças.<br />
Uma pérola, porém a maior, rolou no abismo e não há como reavê-la. As<br />
outras mesmas, que recolhemos, quando as tentamos engranzar logo se dissolvem<br />
em lágrimas.<br />
Toda a riqueza que se perdeu, por mais que a busquemos ajuntar, foge-nos<br />
em bagas de pranto, pérolas que nos caíram no coração, com as quais, se não<br />
refazemos o colar de outrora, formamos o rosário em que rezamos por ele a oração<br />
da saudade.<br />
VIVER<br />
Viver! Eu sei que a alma chora<br />
E a vida é só dor ingrata.<br />
Pranto, que a não alivia,<br />
Olhos, que o estão a verter...<br />
Sofra o coração, em hora!<br />
Sofra! Mas viva! Mas bata<br />
Cheio, ao menos, da alegria<br />
De viver, de viver!<br />
Raimundo Correia<br />
Rugem os ventos, estalam raios, o navio, desarvorado, guina, embica,<br />
empina-se, trambolha; entra-lhe o mar a golfos pelas bordas, afreima-se a maruja e,<br />
na profundeza, a máquina trabalha.<br />
Não cessa e, quanto mais se enfuria a tormenta, mais se esforçam, os que<br />
asseguram o movimento, em manter a fornalha acesa, a caldeira em força, as juntas<br />
bem lubrificadas para que nada impeça a propulsão.<br />
Em cima, é a grita espavorida; são preces, ordens, correrias; um que acode<br />
ao leme; outro que marinha lesto enxárcia acima. Este, calafeta abertas; aquele,<br />
entaipa escotilhas.<br />
E já se desligam os cabos que suspendem aos turcos os barcos de<br />
salvamento, cuida-se a palamenta, trazem-se salva-vidas e tudo e apresta para a<br />
possibilidade iminente do naufrágio.<br />
E a máquina retroa no bojo do navio.<br />
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