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Mano - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Como te enganas, espírito amoroso!<br />

Vem! E sempre que apareças, baixando de onde assistes, acharás o teu<br />

lugar florido de saudades, flores que não morrem nunca porque, para regá-las, há no<br />

coração uma fonte que não cessa de correr e cada vez em maior cópia.<br />

Vem na vigília ou no sono, vem! E acharás o teu lugar tal como o deixaste, e<br />

verificarás que és nele dono e único senhor; que nada do que te pertencia, e te<br />

pertence, foi ali tocado que continuas a ser nele quem dantes foste e agora és mais<br />

que nunca e vives e sobre o que de ti ficou não tem poder a morte, porque é a<br />

mesma Vida, que não perece, Vida como a da Eternidade, por ter a sua origem em<br />

Deus: a alma.<br />

Vem ou como quando atendes carinhosamente ao apelo da minha a<br />

saudade ou surgindo, em meio da minha alegria ou do afã do trabalho, como<br />

costumas aparecer inesperadamente, sempre bem-vindo, para consolo e martírio da<br />

minha saudade.<br />

MOMENTO<br />

Como se há de esquecer toda uma vida, que se prendia a nossa, se o<br />

operado, a quem amputam um membro, durante muito tempo guarda a impressão<br />

de ainda o possuir?<br />

Se as dores ficam assim vivas, como se alguma das suas raízes não<br />

houvesse sido extirpada, se o sofrimento persiste em reminiscências, ainda depois<br />

de curado, como se não há de perpetuar, mesmo que a morte a leve?<br />

Geme o enfermo dores que o não pungem só pelo hábito, em que estava, de<br />

as sofrer; e não há de chorar o que não se conforma com a desdita de haver perdido<br />

um ser amado?<br />

Se de um membro apenas fica tão viva recordação no corpo como não há de<br />

subsistir em saudade na alma a lembrança de um ente estremecido?<br />

O que se levanta do leito e dá pela ausência do que lhe foi amputado custa a<br />

convencer-se do que vê, porque continua a sentir, posto que em ilusão, o que,<br />

dantes, o atormentava. E o que perde um amor há de esquecê-lo? Não!<br />

Sinto-te como se estivesses comigo. Levaram-te de mim, a todo o instante,<br />

porém, tenho-te presente.<br />

E a ti não são dores que te recordam a minha alma, mas venturas, pelo que<br />

sofro ainda mais o bem perdido.<br />

Se o operado não esquece o que o fazia gemer, como me não hei de eu<br />

lembrar do que me fazia sorrir?<br />

A LUZ DA SAUDADE<br />

Tanto se me fixou na mente o episódio lúgubre daquele imenso instante que,<br />

todas as noites, mal apago a lâmpada à minha cabeceira, a escuridão acende-se em<br />

luz lívida e nessa claridade fátua, instantaneamente, a cena reproduz-se vem<br />

projeção fantástica.<br />

Triste ressurreição da morte!<br />

Vejo-o no leito, tal como o tive ante a minha impotência desgraçada,<br />

extinguindo-se pouco a pouco, flébil: de olhos abertos, fitos, lábios hiantes, mudos.<br />

Tão grande era o silêncio no aposento como só mesmo pode ser nos<br />

túmulos. Era a morte que entrava com ele, como a noite entra com a treva e a<br />

madrugada com a luz.<br />

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