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Mano - Unama

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www.nead.unama.br<br />

És tu que passas por mim. És tu que me fazes vibrar de comoção. És tu que<br />

me atravessas instantaneamente a memória como um pássaro, em vôo de flecha,<br />

corta, alígero, o espaço.<br />

Pássaros...! E que são as saudades senão aves de arribação? Ao invés,<br />

porém das andorinhas, que, a maneira dos heliantos, andam sempre procurando o<br />

sol e, as primeiras brumas, reunidas em caravanas, partem, céus em flora, em busca<br />

de climas tropicais, elas emigram no estio e é justamente no inverno que nos chegam.<br />

Coração alegre não lhes serve: gostam de fazer os ninhos à sombra da<br />

melancolia e aí vivem e procriam.<br />

No mais rigoroso da tristeza, quando as lágrimas são mais copiosas,<br />

levantam-se em revoadas e escurecem e entristecem ainda mais o que, já de si, é<br />

lúgubre: o coração magoado.<br />

Se no momento, tais evocações excruciam-me, deixam-me depois a alma<br />

aliviada, como certos bálsamos que, no instante em que são aplicados às feridas,<br />

exacerbam-lhes as dores para as lenirem depois!<br />

E por que assim se converte a angústia em conforto? Porque, por ela, me<br />

convenço da tua sobrevivência.<br />

Se tornas, posto que só em espírito, é porque existes.<br />

O nada não se levanta, não atende, não se manifesta. E tu surges, vens a<br />

mim, anuncias-te presente, ainda que invisível.<br />

Caminhando ao longo do silvedo eis que nos chega um aroma. Senti-lo e<br />

logo saber que flor o exala é tudo um instante. E a flor ? Onde? Escondida na balsa,<br />

oculta nas frontes ou refolhada nos aningais do lago, algures, invisível, mas presente.<br />

É o que se dá quando meu coração se retranse de saudade. Entristeço-me,<br />

logo, porém, consolo-me sentindo-te.<br />

Melhor seria que eu te visse, que vivesses conosco. Mas o maior tormento,<br />

depois que te partiste, era imaginarmos que te havíamos perdido para o sempre.<br />

Não!<br />

Estás longe, mas existes, não desapareceste porque o essencial de ti a<br />

parte eterna do que foste, vive.<br />

O que lá está, na terra, é o casulo: a borboleta voa livre, na luz, e, de quando<br />

em quando, saudosa, baixa do céu à terra e pousa de leve em nossos corações.<br />

TEMPESTADE<br />

Noite lúgubre.<br />

Estortegam-se agoniadamente as árvores ao vento. Bátegas rufam nas<br />

telhas. Por entre as frinchas das janelas afuzilam clarões.<br />

Rápido esfria em regelo. À rajada mais forte o arvorado rumoreja<br />

estabanadamente. A enxurrada chofra, gorgoleja torrencial, rasgada, de quando em<br />

quando, por automóveis que passam.<br />

Troam, estrepitam, ribombam trovões.<br />

No bater das portas e das janelas tem-se a impressão de que andam a<br />

forçar a casa.<br />

Acendem-se luzes. São as crianças que despertaram sobressaltadas com os<br />

fragores.<br />

A estampido mais rijo ei-las de pé, espavoridas. Correm a refugiar-se junto a<br />

nós.<br />

E o estridor aumenta.<br />

Deflagram explosões seguindo-se-lhes silêncio pávido.<br />

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