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www.nead.unama.br<br />
Julgue-se a brenha pelo que dela se avista, verdura matizada pela<br />
florescência dos ramos.<br />
Julgue-se o infinito pelo azul que o olhar abrange. Quem sabe lá o segredo<br />
do abismo, o mistério da selva, o arcano da altura.<br />
O coração é a profundeza em que jazem os sentimentos, em que se ocultam<br />
as paixões: amor e ódios, saudades e remorsos, todo o bem e todo o mal.<br />
A noite é bem a imagem da morte.<br />
Vai-se o sol e as sombras parciais desaparecem, fundindo-se na escuridão<br />
universal, que é a Treva. Vai-se a alma, que é luz, e o corpo, sombra da terra, torna<br />
ao de que veio: a Terra.<br />
E, assim como o sol, e retorno, refaz o dia, assim a alma, depois do<br />
tramonto e da depuração, regressa à vida e ilumina outro ser, efêmero como o dia.<br />
Mas essa luz instantânea, luz que brilha e extingue-se, relâmpago que<br />
apenas serve para mostrar-me o deserto, claridade que fulgura tão só para que eu<br />
veja toda a imensa extensão da minha desventura, quem a acende, e por que?<br />
Como explicar tais surtos, esse ressurgimento do morto dentro da minha<br />
saudade? Quem o invoca e que chamado atende? Será Deus que o mutila para<br />
consolo da minha alma ou será ele próprio que se desprende da Eternidade e, a<br />
súbitas como para certificar-se de que não morreu no meu amor, desce em visita ao<br />
coração, que era o seu ninho? Não sei.<br />
Na maior serenidade, tudo em calma: o céu azul! Com o sol em pleno, as<br />
árvores imóveis nos ramos as aves alacres cantando. De repente, sem nuvem que a<br />
anuncie, sopra de longe, das montanhas, frias, ríspida rajada.<br />
Curvam-se as frondes, sobe a poeira em torvelins, abrumam-se os ares,<br />
negros bulcões empastam, escurecem o céu em cariz de borrasca.<br />
Mas o sol esgueira um raio, abre, por fim, a larga alara de ouro. Reacendese<br />
a claridade, limpa-se de todo o azul, tornam os pássaros ao vôo e a vida<br />
serenamente continua.<br />
Assim, por vezes, no meu coração.<br />
Trabalho na quiete do meu gabinete ou cruzo a multidão nas ruas:<br />
movimento ou placidez, rumor de vida ou silêncio. Atento em dar forma a uma idéia,<br />
torturando, polindo e repolindo a frase eu sigo distraído do turbilhão tumultuário,<br />
tanto como folha morta levada ao léu da correnteza. Nele não penso. Acha-se onde<br />
o amor o recolheu quando a morte o prostrou, no mais recôndito do coração, onde a<br />
saudade conserva carinhosamente o seu tesouro.<br />
De repente o coração me estremece, como abalroado e, no alvoroço que o<br />
agita, transbordam os seus veios sentimentais e logo se me marejam de lágrimas os<br />
olhos.<br />
Que encontro tê-lo-á abalado assim, ao pobre coração tão quieto, para que<br />
dele tanto se ressinta? Que rajada passou por ele toldando-lhe a alegria,<br />
perturbando-lhe a tranqüilidade, como esses improvisos ventos das montanhas frias<br />
que, inopinadamente, se levantam, sopram ríspidos carreando nuvens que<br />
escurentam o sol, retorcem angustiadamente as árvores e tomam um céu claro<br />
acumulado bulcão de cúmulos tempestuosos?<br />
Rajada de saudade, vinda não se sabe de onde nem por que. De onde?<br />
Senão da morte; por que, senão por ciúme, desconfiança, talvez, de que haja sido<br />
esquecido para surpreender a alma, apanhá-la distraída e ver se nela o lugar que<br />
era, outrora, seu foi ocupado ou esquecido, enchendo-se de nova alegria ou<br />
deixando em indiferença como os terrenos que, por abandono, desaparecem em<br />
maninho agreste.<br />
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