"A Droga do Amor" de Pedro Bandeira - IFTO
"A Droga do Amor" de Pedro Bandeira - IFTO
"A Droga do Amor" de Pedro Bandeira - IFTO
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
***<br />
Magrí afastou ligeiramente as cortinas <strong>de</strong> uma das janelas da sala <strong>de</strong> isolamento infantil.<br />
Abriu a vidraça e olhou.<br />
"Pelo meu cálculo, a janela <strong>do</strong> quarto on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve estar <strong>do</strong>na Iolanda é a décima, a partir<br />
<strong>de</strong>sta..."<br />
Uns quinze metros separavam a janela da rua, lá embaixo. Examinou a pare<strong>de</strong>. Uma<br />
saliência <strong>de</strong> uns cinco centímetros percorria toda a fachada, um metro abaixo da linha das<br />
janelas.<br />
"Muito bem. Se eu imaginar que estou no Campeonato Mundial <strong>de</strong> Ginástica Olímpica,<br />
apoiar os pés na saliência e agarrar-me aos parapeitos das janelas, acho que vai dar..."<br />
No campeonato, Magrí a<strong>do</strong>rava platéias cheias, aplaudin<strong>do</strong> suas performances. Mas,<br />
naquele caso, qualquer especta<strong>do</strong>r lá embaixo acharia muito estranha uma <strong>de</strong>monstração<br />
<strong>de</strong> ginástica olímpica nas pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um hospital.<br />
Do outro la<strong>do</strong> da rua, <strong>do</strong>is homens <strong>de</strong> terno estavam encosta<strong>do</strong>s em um carro escuro.<br />
Pareciam parentes <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is gorilões que guardavam a porta <strong>do</strong> quarto.<br />
O sol abrasava, baten<strong>do</strong> em cheio naquela pare<strong>de</strong> <strong>do</strong> hospital. Qualquer um <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is<br />
homens, ou algum passante, se levantasse os olhos, iria assistir a toda a acrobacia que a<br />
menina pretendia fazer para chegar até o quarto <strong>de</strong> <strong>do</strong>na Iolanda.<br />
Um pouco mais longe, na esquina, o fusquinha <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> estava estaciona<strong>do</strong>,<br />
esperan<strong>do</strong>.<br />
Magrí pegou um abajur <strong>de</strong> cabeceira, acen<strong>de</strong>u-o e tapou sua luz com um pequeno<br />
travesseiro.<br />
Pela cortina entreaberta, mostrou a luz acesa. Tapou-a <strong>de</strong> novo, <strong>de</strong>stapou-a, tapou-a,<br />
<strong>de</strong>stapou-a...<br />
***<br />
Dentro <strong>do</strong> fusquinha, Miguel chamou a atenção <strong>do</strong>s outros: - Vejam! Naquela janela!<br />
Andra<strong>de</strong>, Crânio e Calú olharam. Uma luzinha piscava intermitentemente atrás das<br />
cortinas.<br />
- É Magrí - sorriu Crânio. - Que danada! Está transmitin<strong>do</strong> em Código Morse!<br />
- Fique quieto! Estou tentan<strong>do</strong> traduzir!<br />
- Vocês conhecem o Código Morse? - espantou-se Andra<strong>de</strong>, como se ainda houvesse<br />
alguma coisa naqueles garotos que pu<strong>de</strong>sse surpreendê-lo.<br />
- Um curto, <strong>do</strong>is longos...<br />
- Peguei! - disse Crânio. - "Não <strong>de</strong>ixem ninguém olhar para cima." Ah, ah! Ela está<br />
dizen<strong>do</strong> para a gente dar um jeito <strong>de</strong> distrair as pessoas da rua. Vai aprontar uma das<br />
boas!<br />
- Calú - coman<strong>do</strong>u Miguel. - Você é o ator. Esse é um trabalho para você.<br />
- Certo, Miguel.<br />
Andra<strong>de</strong> não estava enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> nada:<br />
- Ué... Que besteira é essa? Que negócio é esse <strong>de</strong> não olhar para cima? O que é que<br />
tem a ver as pessoas na rua? O que é que o Calú vai fazer?<br />
Crânio pôs a mão no ombro <strong>do</strong> <strong>de</strong>tetive.<br />
- Andra<strong>de</strong>, acho que é melhor você também não olhar para cima nos próximos <strong>de</strong>z<br />
minutos...<br />
- Ai, esses meninos estão to<strong>do</strong>s malucos! On<strong>de</strong> é que eu estava com a cabeça quan<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>ixei eles se envolverem nisso? Malucos! São malucos!<br />
***<br />
Crânio e Miguel saíram <strong>do</strong> carro e começaram a andar pela calçada oposta ao hospital.<br />
Conversavam <strong>de</strong>spreocupadamente e <strong>de</strong>ram uma paradinha quan<strong>do</strong> chegaram ao la<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is homens <strong>do</strong> carro escuro.<br />
Os homens nunca tinham visto aqueles rapazes e não se incomodaram com eles.