"A Droga do Amor" de Pedro Bandeira - IFTO
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Com cuida<strong>do</strong>, tirou os lençóis da cama <strong>do</strong> faleci<strong>do</strong>, fez uma trouxa, usan<strong>do</strong> também os<br />
travesseiros e as toalhas, tomou fôlego e abriu a porta.<br />
Os <strong>do</strong>is gorilas nem <strong>de</strong>sconfiaram daquela faxineira que, <strong>do</strong> quarto ao la<strong>do</strong>, saía<br />
carregan<strong>do</strong> uma trouxa <strong>de</strong> roupas sujas.<br />
***<br />
Crânio veio andan<strong>do</strong> normalmente, pelo la<strong>do</strong> <strong>do</strong> hospital, até chegar à viela. Depois,<br />
entrou rapidamente, colocan<strong>do</strong>-se meio na sombra, ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> um monte <strong>de</strong> caixas <strong>de</strong><br />
papelão.<br />
Dentro <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>las, o anão encolheu-se o mais que po<strong>de</strong>.<br />
***<br />
Magrí <strong>de</strong>sceu as escadas, carregan<strong>do</strong> a trouxa <strong>de</strong> roupas, e chegou ao subsolo, on<strong>de</strong><br />
tinha consegui<strong>do</strong> o uniforme <strong>de</strong> faxineira.<br />
No fun<strong>do</strong>, havia uma porta. Pelo seu senso <strong>de</strong> orientação, Magri percebeu que aquela<br />
porta dava para os fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> hospital. "Ótimo!"<br />
***<br />
Calú encostou-se displicentemente a um poste em frente à viela.<br />
Nesse momento, os <strong>do</strong>is homens <strong>de</strong> terno aproximavam-se pela rua lateral, em direção à<br />
mesma viela.<br />
***<br />
Magrí saiu sorrateiramente pela porta e olhou.<br />
A cabeça <strong>de</strong> Crânio aparecia ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma pilha <strong>de</strong> caixas <strong>de</strong> papelão.<br />
O amigo fez um gesto com a cabeça.<br />
Tu<strong>do</strong> estava bem.<br />
Mas, nesse momento, <strong>do</strong>is assobios curtos, fortíssimos, foram ouvi<strong>do</strong>s.<br />
Os <strong>do</strong>is homens, já entran<strong>do</strong> na viela, <strong>de</strong>ram apenas uma olhada para trás. Não viram<br />
nada <strong>de</strong> mais. Não <strong>de</strong>via ser nada <strong>de</strong> mais.<br />
***<br />
Sem per<strong>de</strong>r um segun<strong>do</strong>, Magrí mergulhou com Crânio no meio das caixas <strong>de</strong> papelão.<br />
Quan<strong>do</strong> os <strong>do</strong>is homens chegaram bem perto das caixas, não era possível perceber<br />
nada.<br />
Crânio e Magrí encolheram-se.<br />
Apenas uma folha grossa <strong>de</strong> papelão sujo separava os <strong>do</strong>is Karas <strong>do</strong> anão.<br />
***<br />
Os homens conversavam. Parecia ser sobre futebol.<br />
Olharam em volta. Quan<strong>do</strong> viram que não havia ninguém à vista, abriram o zíper da calça<br />
e aliviaram-se tranqüilamente.<br />
Os <strong>do</strong>is Karas ouviram o ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong> duas "torneirinhas" regan<strong>do</strong> a pare<strong>de</strong> <strong>do</strong> hospital.<br />
Crânio olhou para Magrí. A menina sorria. A situação era mesmo engraçada, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
tanta tensão.<br />
Magrí estava suada, excitada, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma aventura tão incrível.<br />
O rapaz continuava olhan<strong>do</strong> para a menina. Ele tinha acompanha<strong>do</strong> a loucura <strong>de</strong> Magrí,<br />
ao atravessar quase toda a fachada <strong>do</strong> hospital, a quinze metros <strong>do</strong> chão. Seu olhar era<br />
<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira a<strong>do</strong>ração. De admiração. De um amor intenso, imenso, eterno...<br />
***<br />
Os homens, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> urinarem, encostaram-se na pare<strong>de</strong> e acen<strong>de</strong>ram cigarros.<br />
- Está um calor dana<strong>do</strong> na frente <strong>do</strong> hospital... Vamos dar um tempo. Aqui é bem mais<br />
fresco. Ninguém vai aparecer por lá, nos próximos <strong>de</strong>z minutos...<br />
***<br />
Encolhi<strong>do</strong>s no meio das caixas, Crânio e Magrí não podiam fazer qualquer ruí<strong>do</strong>.<br />
Estavam juntos, cola<strong>do</strong>s. Protetoramente, o braço <strong>de</strong> Crânio enlaçava Magrí.<br />
Seus rostos estavam quase cola<strong>do</strong>s. Seus hálitos se misturavam. Respiravam o mesmo