versão pdf - Livraria Imprensa Oficial
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histórias (escancaramos). Aos poucos, relaxamos. Ela foi abrindo o jogo<br />
devagarzinho e depois já pontuava os depoimentos com um nossa, há muito<br />
tempo não toco nesse assunto, ou eu faço questão de contar como foi que<br />
isso aconteceu exatamente.<br />
Contrariando o catecismo, às vezes retribuía tanta generosidade com<br />
algumas histórias pessoais, sempre pontuadas pela música, nas noites da<br />
Bahia, Rio, São Paulo ou Nova York. Por exemplo, quando recordou sua<br />
estreia no João Sebastião Bar e eu disse que muitas vezes tinha ouvido<br />
música naquele lugar, na Rua Major Sertório. Acho que duvidou. Momento<br />
tocante foi quando recordou seu encontro com Piazzolla na boate La Noche,<br />
em Buenos Aires. Fiquei emocionada, ela percebeu e registrou. Por fim,<br />
acredito que o fato de Alcivandro Luz, Romero Lubamba, Ron Carter,<br />
Paquito D’Rivera, Bill Evans e Piazzolla ocuparem lugares especiais em<br />
nossos corações confirmou que habitávamos o mesmo quadrante neste<br />
universo cósmico.<br />
Leny foi tomando gosto pelas entrevistas, se entusiasmando pelo fato de<br />
estar organizando pela primeira vez a trajetória de sua vida em capítulos,<br />
tal qual uma Sherazade moderna. Mais ainda quando percebeu que este livro<br />
poderia salvá-la dos sultões da mídia e da ignorância das novas gerações,<br />
colocando-a no lugar onde verdadeiramente merece estar na história da<br />
nossa música. A cada encontro ela se organizava mais. Começou a chegar<br />
com um caderninho contendo poucas, porém, criteriosas anotações.<br />
Fazia comentários e sugestões inteligentes, discutia o projeto, colocandose<br />
inteira naquelas duas, três, quatro horas que ficávamos conversando.<br />
Sem falsa modéstia e com muito orgulho. A história fluía sem tropeços<br />
graças à sua extraordinária memória: do jeito que ela contava, parecia que<br />
tinha acontecido ontem. Tudo era narrado com muito colorido. Leny reviveu:<br />
riu, sorriu, sentiu raiva, indignação, saudade, se emocionou e até amou de<br />
novo. No final, quando o passado já se encostava no presente, contava-me<br />
amigavelmente sobre o seu dia a dia no Brasil, ou sobre as curtas e constantes<br />
viagens que realizou neste último ano, deixava recados na secretária eletrônica<br />
e enviava e-mails, já que estava aprendendo a lidar com o computador.<br />
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