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que ele trouxera de Madri fora atropelado e teria que ser sacrificado, pedia<br />

que eu o encontrasse em seu ateliê em Laranjeiras. Carmelo era um artista,<br />

esculpia cristal. No ateliê, falou: Gordita, não puedo mais viver sem você.<br />

O que vamos hacer? O meu visto vence em um mês e dez dias. Terei que<br />

voltar e não quero. Quero ficar aqui no Brasil. Ele admitia ser um bon vivant,<br />

de família rica, solteiro e andarilho, mas até aquele momento não tinha tido<br />

nenhuma razão para mudar, pois ainda não me conhecera. E pediu-me em<br />

casamento. Achei que queria casar-se por causa do visto, mas ele garantiu<br />

que não, que era a sério, que seria no civil e no religioso. Aí, eu disse sim!<br />

Minha família não estava preparada para aquela bomba, até porque eu sempre<br />

afirmara que não me casaria, iria somente cantar na vida, onde quer que<br />

fosse, sem nada que me limitasse. Eu seria do mundo, não poderia ficar<br />

tomada de amores por ninguém. E se o cara fosse ciumento? Mas Carmelo<br />

não tinha ciúmes de nada. Nem dos fãs nem dos amigos que me agarravam<br />

e me davam beijos efusivos. Nada! Ele só queria era uma liberdade exagerada<br />

para ele, que eu logo percebi que não era para agir no terreno das<br />

mulheres. Tinha tranquilidade, sabia que poderia ir a qualquer lugar com<br />

aquele homem bonito que não corria perigo. Fui muito feliz por cinco anos.<br />

Foi muito bom.<br />

Atribuo o fim de meu casamento à minha própria falta de vivência. Porque<br />

se eu fosse um pouco mais evoluída, se tivesse vivido com ele por uns dois<br />

meses na Europa, talvez me acostumasse melhor com algumas histórias.<br />

Não era desconfiança de traição, mas sim o temor das drogas. Esse era<br />

meu medo e meu grande problema. Porque eu era do meio, cantava no<br />

Chico’s Bar com uma porção de malucos junto e o que poderia ser normal<br />

para muita gente, para mim não era. Então, esse meu amor foi ficando<br />

triste, se desiludindo, perdendo o viço. Fui desapaixonando só de pensar<br />

que pelo resto da minha vida eu ia ter esse tipo de preocupação: onde será<br />

que ele está? O que estará fazendo? E não era por ciúmes, a questão não<br />

era essa, porque vi o Carmelo dar o fora em mulheres importantes, que não<br />

quero citar o nome, o vi pedindo a elas que me respeitassem, dizendo que<br />

era casado e que me amava.<br />

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