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A harmoniosa roupagem do jazz<br />
Muitos já me ouviram cantando um pot-pourri de antigas músicas de carnaval,<br />
com arranjo do Fernando Merlino (José Fernando Appolonio Merlino). Ali,<br />
todo o tradicional foi posto abaixo. A modalidade jazzística apuradíssima do<br />
Fernando fez com que aquelas três músicas se transformassem numa única<br />
em rara harmonia. Aquilo é impressionante. Esse é o meu pianista. Além de<br />
tocar muito bem, quando mexe nas harmonias dá outra roupagem à música<br />
sem alterar o original. O público sabe o que eu estou cantando, sai cantando<br />
junto, mas a vestimenta ali é o jazz.<br />
A evolução de músicos, cantores e dos compositores se expande quando<br />
eles colocam o jazz e o clássico para a música popular. Porque Chopin,<br />
Beethoven, Wagner são maravilhosos. Você pega o Villa-Lobos, por exemplo.<br />
Ele bebeu nessa fonte, assim como o Cartola, e nenhum dos dois se preocupou<br />
em esconder esse fato. Vejam o Piazzolla: aquele argentino genial fez<br />
com o tango o que a nossa turma aqui fez com a MPB. Tom, Carlos Lyra,<br />
Maurício Einhorn, Luiz Eça, Gilson Peranzzetta, o próprio Sergio Mendes,<br />
que era o maior pianista de jazz do País quando a Bossa Nova chegou.<br />
Aliás, o Sergio e eu tivemos um grande problema, quando nos preparávamos<br />
para as apresentações no Bottle’s Bar. Ele dizia que não tocava samba e eu<br />
que não cantava jazz. Ele não acreditava, realmente, que eu não cantasse<br />
este estilo, até porque já havia visto eu improvisar, e quem improvisa canta<br />
jazz. Aí, o Alberico o aconselhou a sentar-se e conversar comigo, lembrou-<br />
-lhe que eu era apenas uma menina, alertando-o, contudo, que eu já fazia<br />
muito sucesso. O fato é que o Alberico dobrou o que eu ganhava no Bacará<br />
diante do sucesso que eu estava fazendo. Todo o público do Beco das<br />
Garrafas estava indo para lá, logo depois da morte da Dolores Duran, pela<br />
novidade que eu era. Enquanto isso, o Bottle’s Bar ficava vazio, embora lá<br />
estivesse o Sergio Mendes Trio recém-premiado no Chile. Depois de muita<br />
discussão, decidimos ceder. Eu aprenderia jazz e o Sergio tocaria samba.<br />
E deu no que deu. Se o Sergio nunca tivesse tocado samba, jamais emplacaria<br />
nos Estados Unidos com o Mais que Nada de Jorge Benjor. Foi bom<br />
para ele, foi bom para mim. Ele costuma dizer que metade do dinheiro que<br />
ele tem é meu. Já o xinguei de ordinário várias vezes carinhosamente.<br />
Temos uma linda amizade!<br />
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