versão pdf - Livraria Imprensa Oficial
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Não fui criança prodígio, até porque acho que elas são umas chatas.<br />
Mas precoce sempre fui. E independente. Desde cedo descobri que queria<br />
ser cantora e fui trabalhando para marcar a minha posição dentro de casa<br />
desde pequena, já que tinha pais tão rigorosos. Contava com o apoio do Dr.<br />
Gustavo, até porque ele tinha um filho músico, o Dudu. Já mamãe, depois de<br />
ter a resistência vencida, permitindo que eu participasse do concurso do<br />
conjunto residencial do IAPC, acabou por deixar as coisas correrem frouxas,<br />
porque, afinal, papai estava no comando. Estava lançada a minha carreira de<br />
cantora. Fui participar das matinês do Clube do Guri. Paralelamente, estudava<br />
piano a sério como bolsista do Conservatório com tudo o que isso significa:<br />
Czerny, Cortot, Bach e ensaios para as audições anuais. As festas de fim de<br />
ano eram um terror. Na terceira audição de piano, que era realizada no auditório<br />
da Associação Brasileira de <strong>Imprensa</strong> (ABI), a professora Maria Amélia de<br />
Oliveira resolveu juntar o grupo de meninas e propôs que terminássemos o<br />
concerto cantando Adeus Guacira, em lugar de tocar uma música. Uma por<br />
uma das alunas foi sendo testada até que chegou a minha vez e fui a escolhida<br />
para solar o maior trecho da música. Fiquei tão orgulhosa com os aplausos<br />
da plateia, tão vaidosa, que nunca mais deixaria de cantar...<br />
Cheguei com o meu pai ao Clube do Guri – o maior programa de rádio do<br />
País na época – recomendada por um Sr. Loureiro, que tinha ido perguntar<br />
a ele se eu não gostaria de participar do programa do Samuel Rosenberg.<br />
O programa era gravado no estúdio da Rádio Tupi. Eu tinha 10 anos, já tocava<br />
um pianinho regular e adorava cantar Risque que, decididamente, não é<br />
música para ser interpretada por crianças. O apresentador do Clube do Guri,<br />
Ari Rego, e o pianista Lucas acataram a escolha sob pressão, com restrições<br />
e sem alternativas. O final daquela minha primeira apresentação foi surpreendente,<br />
porque fiz um arremate. Até hoje arremato tudo o que canto, pois<br />
afinal de contas, quando a gente canta, não está recolhendo lixo – a música<br />
é composta de melodia, letra, ritmo e muito mais, não acaba enquanto não<br />
se faz o final. Os finais que o Tony Bennett dá às músicas que canta literalmente<br />
me matam. São todos muito bem pensados.<br />
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