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Milton de Paula, um lindo piano e pura poesia<br />
Milton de Paula e eu vivemos um romance fadado ao insucesso por vários<br />
motivos. Seus familiares jamais aceitariam que ele se casasse comigo, pois<br />
pensavam que cantoras eram putas. Isso é bom registrar, porque era exatamente<br />
assim que as coisas aconteciam naquela época. A Claudette, por<br />
exemplo, andava com a mãe a tiracolo para não ficar malfalada. Por outro<br />
lado, Milton era um tanto possessivo. Não me largava um minuto, no palco<br />
e na vida. Deixei-o então ao sabor da família. Ele continuou em Ribeirão<br />
Preto, concluiu a faculdade de Administração e casou-se com uma das<br />
moças mais ricas da cidade, cuja família era dona de usinas de açúcar.<br />
Ele com o café e ela com o açúcar, foi uma combinação e tanto. Assim se<br />
passaram os anos. Ele ficou lá casado e eu aqui me casei com o Carmelo<br />
Senna, um madrilenho lindíssimo e riquíssimo, cuja história conto adiante.<br />
Certa noite, eu estava fazendo uma temporada no Chico’s Bar, anexo ao<br />
Castelo da Lagoa, um dos restaurantes do Chico Recarey, quando o maître<br />
chegou dizendo que um cliente do restaurante queria falar comigo. Fui ver<br />
quem era e dei de cara com o Milton de Paula, que pediu licença aos amigos<br />
e me levou lá fora para uma conversa. Demos uma volta inteira no quarteirão<br />
de mãos dadas, absolutamente mudos, num silêncio sepulcral. O nosso<br />
reencontro se resumiu nisso. Ele nada disse além do que já tinha falado à<br />
mesa. Nem sequer houve um gesto, uma tentativa de beijo, nada. Porém,<br />
foi o encontro mais emocionante que tive na minha vida. Um presente.<br />
Foi como se ele dissesse que ainda continuava comigo desde os tempos do<br />
João Sebastião Bar e de Buenos Aires, e que me amaria para sempre.<br />
Que tudo o que nós possuíamos dispensava palavras ou explicações.<br />
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