Sete Visões: Ambição - rtavares consultoria & treinamento
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[SE7E VISÕES - AMBIÇÃO] Página | 52<br />
A cena era assustadora. O corpo do avô parecia entrar facilmente em combustão, e,<br />
em pouco tempo, praticamente desapareceu na fogueira.<br />
“Será culpa do veneno?”, pensou. “Será que havia realmente algum veneno?”<br />
A possível verdade soou como uma punhalada em sua mente. Ele ainda pensava se<br />
o pressentimento que tivera não teria sido apenas uma sensação ruim alimentada pelo ódio.<br />
O que o torturava era que ele nunca saberia se os biscoitos “envenenados” foram apenas<br />
uma invenção do avô para testá-lo. Conforme o raciocínio dele, quem toma veneno<br />
não precisa se lançar ao fogo para morrer.<br />
O primeiro duende da fila, sem fazer barulho, lançou no fogo os objetos que tinha<br />
em mãos, para depois pular na lareira. E, em seguida, outro duende fez o mesmo.<br />
Kär viu mais duendes empilhando-se sobre o fogo, queimando como se fossem os<br />
bonecos de madeira com os quais ele brincava quando era criança. O fogo aumentava e<br />
expelia uma fumaça densa, que cheirava a carne queimada.<br />
Os duendes foram, um a um, morrendo na fogueira e subindo pela chaminé em<br />
forma de fumaça ― fazendo o trajeto inverso que Papai Noel fazia em todas as vésperas<br />
de Natal. E a “fila de espera” parecia interminável.<br />
Alguns homenzinhos saíram pelo buraco que originalmente era o de descer, e sumiram<br />
pela porta afora, deixando-a aberta. Mesmo com o vento gelado que entrou ali, o fogo<br />
da lareira não vacilou.<br />
Logo, os duendes voltaram carregando pedaços de madeira que Kär reconheceu: o<br />
cercado das renas. Fizeram outra fila em frente à lareira, e foram “acendendo” as pontas<br />
das ripas com o fogo. Quando a madeira começava a queimar, eles a deixavam em qualquer<br />
lugar da casa. Alguns duendes pareciam encarregar-se de levar alguns dos pedaços<br />
de madeira para queimar o cômodo no subsolo.<br />
Rapidamente, o fogo se alastrou pela casa. As paredes de madeira começaram a estalar<br />
com as chamas, e a decoração ia sendo consumida também.<br />
Kär, ainda atônito, parou de olhar para a lareira e sentou-se no chão, envolvendo as<br />
pernas dobradas com os braços.<br />
O garoto não chegou a ver o grande trenó sendo arrastado para dentro da casa, ou<br />
as renas que corriam sem rumo nos campos nevados, gratas pela liberdade. Quase instantaneamente,<br />
o fogo cobriu o trenó e o pano escuro depositado sobre ele.<br />
O calor se aproximou mais, e Kär refugiou os olhos entre as pernas para que eles<br />
não fossem derretidos pela claridade das labaredas. Ele estava inapto a tomar qualquer<br />
decisão naquele momento, e por isso sabia de seu destino. Todas as lembranças do Papai<br />
Noel iriam sumir, inclusive ele.<br />
Se ele bem se lembrava, a condição do “presente” era que ele desejasse viver. E não<br />
era bem o que ele desejava no momento. Seu coração, antes possuído pelo ódio, agora se<br />
desvanecia em arrependimento.<br />
Talvez, se ele tivesse desistido de prosseguir com seu plano improvisado... Mas não<br />
havia tempo para pensar nisso. Ele, simplesmente, não aceitaria viver após ter feito tudo<br />
aquilo com o homem que ele mais amava no mundo.<br />
O fogo foi se alastrando pelo teto, até que algo em cima dele se desprendeu. Sua hora<br />
havia chegado.<br />
Uma ripa quebrada, com a ponta voltada para o seu peito, desceu sem piedade ―<br />
uma situação bem familiar, por sinal.