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Sete Visões: Ambição - rtavares consultoria & treinamento

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18h00 a 19h00<br />

[SE7E VISÕES - AMBIÇÃO] Página | 65<br />

O filho retornou, soltando a fumaça de cigarro que tanto incomodava o pai, parecendo<br />

pensativo. Olhou o velho com desdém, e ao mesmo tempo com um ar meditativo. Pensava<br />

em sua maldita sorte: ter um pai assassino. Sim, assassino. Matara a esposa e um dos<br />

filhos — seu irmão gêmeo, do qual o rapaz ainda sente muita falta, como se metade de seu<br />

ser tivesse sido arrancada de si.<br />

— Eu tenho outra história para contar — disse o pai, com a voz denunciando uma<br />

ponta de desespero.<br />

Não havia escolha. Era melhor ouvir a nova tentativa. Ele talvez pudesse rir muito da<br />

situação quando chegasse à sua casa, com o testamento em mãos e a riqueza entregue somente<br />

a ele, e não para instituições beneficentes.<br />

O velho tolo contou uma história mais apimentada, com uma jovem seminua, seios<br />

expostos para um unicórnio tarado. Um caçador roubou um chifre, matando o animal idiota.<br />

Sorrindo de forma debochada, o rapaz pensou que, se fosse ele o protagonista dessa<br />

narrativa de fantasia, teria estuprado a camponesa também. Já havia feito isso na faculdade,<br />

poderia fazer de novo, quando quisesse.<br />

— Caçador idiota! — exclamou o ouvinte, no término da segunda história. — Perdeu<br />

o chifre valioso para um cara que nem sei quem é!<br />

— Você não entendeu, não é? — perguntou o pai, decepcionado.<br />

― Entender o quê? Que um caçador se ferrou tentando pegar um chifre de diamante?<br />

O velho arfou, parecendo tomado pela decepção de ter um filho tão materialista e de<br />

tão pequena visão. Uma dor de cabeça incômoda começou a fazer-se presente.<br />

— Para os personagens, o unicórnio, a donzela e o caçador, a ambição determinou o<br />

destino de cada um deles — explicou, calmamente.<br />

— Quer me dizer que uma rapariga...<br />

— Olha o linguajar, rapazinho!<br />

O pai era um homem educado e com inúmeros princípios, e mesmo sabendo que seu<br />

filho, seu único filho — sobrevivente de um acidente de carro que ceifara as vidas de seu<br />

outro filho e da esposa, entes tão estimados — iria matá-lo quando chegasse a meia-noite,<br />

não permitiria que ele falasse como um bandido, um marginal, alguém sem o mínimo de<br />

educação.<br />

— Você não manda em mim, velho! — gritou o filho, pondo-se em pé, furioso.<br />

— Eu sei disso — a tristeza do pai era clara no seu tom de voz —, e é isso que muito<br />

me preocupa.<br />

Após o acidente tudo mudou. O filho tinha apenas dez anos, uma criança cheia de<br />

sonhos, que de repente perdeu o seu maior companheiro. Uma infância marcada e nada,<br />

nenhum esforço do pai mudou aquilo. Ele se afastou, renegou a sua família. Pelo menos<br />

até saber da grave doença do seu genitor, e de enxergar no seu testamento uma forma de<br />

compensação pelo crime que estava certo que o pai havia cometido.<br />

— Lembre-se do caçador que não deu ouvidos à mãe, e foi morto pela sua ambição!<br />

— pediu o doente, tentando convencer o filho. — Lembre-se da donzela que, por mais que<br />

tenha tido boas intenções, matou uma criatura sagrada! Lembre-se do unicórnio que, tomado<br />

pelo desejo, pela inocência, pôs a vida em risco mortal!<br />

— Todos eles foram uns tolos! O caçador foi imbecil por querer rever a família!<br />

— Você não...

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