Sete Visões: Ambição - rtavares consultoria & treinamento
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22h00 a 23h00<br />
[SE7E VISÕES - AMBIÇÃO] Página | 71<br />
Ao contrário do jovem, o ancião via os minutos sumirem diante de si, como folhas<br />
secas lançadas ao vento. O esforço para contar as histórias ao filho — e o tempo para<br />
construí-las de modo que surtissem algum efeito no coração do jovem ambicioso — o<br />
estavam exaurindo. O tempo era seu segundo inimigo.<br />
— Vamos lá, velho — o filho voltou para junto do leito, tirando de um bolso um<br />
papel cujo conteúdo o pai não conseguiu distinguir. — Estou pronto para mais uma<br />
história — ele sorriu com escárnio.<br />
— Está gostando de ouvir a...<br />
— Na verdade — o filho disse, fingindo estar pensativo —, quanto mais rápido você<br />
começar, mais rápido a história termina. E eu estou louco — ele ironizou — para saber<br />
como mais uma emocionante história irá se desenrolar.<br />
O velho retribuiu com uma risada sem graça. Tremeu ao puxar fôlego, fazendo<br />
nascer uma risada no canto da boca do filho, e emendou com o início da história.<br />
A história demorou mais que o tempo habitual. Porém, tomado pela resolução de<br />
que seria mais divertido aproveitar cada passagem do conto para depois zombar do velho,<br />
ouviu pacientemente toda a narração.<br />
— Agora sim — o rapaz comemorou, levantando as mãos. — Estou feliz, agora. Até<br />
que enfim!<br />
O velho deu um sorriso sincero.<br />
— E então, meu filho?<br />
Havia chegado o momento pelo qual o jovem esperou.<br />
— Você pode escolher a resposta: “Estou feliz porque essa história chata acabou”,<br />
“Não sei como você conseguiu chegar vivo até o final dessa história”, “Que lindo... Você<br />
até usou o Papai Noel dessa vez... No próximo conto teremos o quê? Pássaros e esquilos<br />
cantando? Princesas dançando ao ar livre?”, ou ainda “Estou me sentindo num maldito<br />
livro das Mil e Uma Noites”! — ele enumerou. — E então, decidiu com qual vai ficar?<br />
O sorriso do pai sumiu. Ele fez um gesto negativo e desaprovador com a cabeça.<br />
— Mas por que, hein? — o filho debochou. — Por que os ambiciosos das suas<br />
histórias sempre perdem no final?<br />
— Porque é assim, filho...<br />
— Não é, e você sabe! — o filho acusou, com razão, dessa vez. — Não sou eu quem<br />
vai ensinar que o mundo é injusto com todos, certos ou errados. O sol brilha para todos, e<br />
a chuva molha igualmente os santos e os pecadores.<br />
O velho estancou. Não queria ouvir do filho a realidade do mundo. Ele devia tomar<br />
as rédeas do momento e tentar passar, pela sexta vez naquela noite, uma lição de moral<br />
acerca do comportamento ambicioso do seu algoz.<br />
— Se me dá licença, pai — o jovem contorceu os lábios —, vou deixá-lo pensando...<br />
na última história que o senhor irá contar. Estou ficando de saco cheio disso tudo, e<br />
preciso de uma motivação adicional para aguentar até o horário de troca dos funcionários<br />
— abriu a porta do quarto e, antes de sair, voltou-se para o pai com um sorriso falso,<br />
tentando disfarçar sua exaustão. — Vou até ali “farejar” a disposição que preciso para<br />
aguentar sua última tentativa, se é que você me entende...