Sete Visões: Ambição - rtavares consultoria & treinamento
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[SE7E VISÕES - AMBIÇÃO] Página | 69<br />
O pai sentia que seu fim estava próximo. Agora, além de combater os impulsos psicopatas<br />
do filho, deveria também travar uma batalha interna, contra todos os sentimentos<br />
de arrependimento e culpa, renascidos de lembranças que buscavam desesperadamente<br />
em quais pontos falhou como pai.<br />
Havia se arrependido de tudo o que fizera, da pouca atenção que dera a seu filho,<br />
embora sempre estivesse ao seu lado. Percebeu que havia perdido muito tempo e só agora,<br />
quando estava morrendo, entendia o real sentido de sua existência. Durante toda a sua<br />
vida foi um homem frio e calculista, não queria que seu filho fosse igual a ele, queria lhe<br />
ensinar algo de virtuoso.<br />
Mas como?<br />
O filho, quando criança, esperava dele carinho. Tinha tudo o que um garoto sonhava,<br />
entretanto o mais importante lhe faltava e ele se perguntava de que tudo aquilo adiantava<br />
se ele não tinha o amor do pai.<br />
Cresceu com uma grande amargura no coração, e aquilo que nas outras famílias se<br />
chamava amor, na dele era ódio e tristeza. O vazio do seu coração foi preenchido com rancor<br />
e desprezo, tornou-se um homem descrente e perverso.<br />
O jovem estava no jardim. Olhava as flores, pensava friamente no pai que não duraria<br />
muito tempo. Maquinava em sua mente uma forma de matá-lo mais depressa, ficando<br />
com toda a herança.<br />
A sua consciência estava mudada, fora do normal. Era a experiência que vivera por aí<br />
afora que o fizera ser o que era agora, alguém que o fazia ter orgulho.<br />
Entrou no quarto, sem que ninguém percebesse e viu que o pai ainda estava acordado.<br />
Encarou-o com um olhar fixo. Quis acabar de uma vez por todas com aquela história.<br />
— Filho, escuta-me, por favor! ― pediu o pai, que estava com dificuldade na fala.<br />
― Não me vai dizer que contará outra história ― respondeu rispidamente. — Estou<br />
ficando farto de toda essa conversa jogada fora.<br />
― A única coisa que posso fazer agora é tentar. Vai negar o pedido de um moribundo?<br />
Dê-me essa chance... — um acesso de tosse cortou a frase antes de sua conclusão.<br />
― Conte-me, então! — foi a resposta do filho, enquanto cruzava os braços e sentavase<br />
pesadamente na poltrona.<br />
O filho ouviu a história atentamente, entretanto parecia distante, ora olhava para o<br />
pai, ora olhava para o teto do quarto. Visivelmente, estava ficando farto de tudo aquilo.<br />
Amaldiçoava o tempo, que parecia parar, privando-o de finalmente encontrar sua tão esperada<br />
meia-noite.<br />
― Agora você compreende? Lancei mão de uma história mais simples, porém de igual<br />
importância para convencê-lo a desistir desse seu plano cruel — a voz do pai era basicamente<br />
um sussurro, entrecortado por sua respiração ofegante.<br />
― Suas histórias são chatas.<br />
― Você não entende ainda, não é?<br />
― Claro que entendo! <strong>Sete</strong> aventureiros em uma ilha em busca de um tesouro. Isso<br />
tudo é patético!<br />
― Lembre-se que os únicos que se salvaram foram os que não ambicionavam mais do<br />
que lhes era proposto.