[SE7E VISÕES - AMBIÇÃO] Página | 74 — Você foi buscar um homem das estrelas para me convencer, porque na Terra não há quem consiga, não é mesmo? — perguntou o rapaz, enrolando-se com as palavras. — Esqueça o extraterrestre. A importância de tudo está no caçador. Você é esse personagem — as forças pareciam retornar ao corpo fragilizado do velho senhor. — O seu estado deplorável permite que você entenda o que quero dizer, ou o veneno já deteriorou sua capacidade de raciocínio? Em um último esforço desesperado, o pai decidiu abandonar a postura defensiva que adotou até então, e partir para um ataque direto. O resultado disso era imprevisível, pois surpreender e desconcertar o filho àquela altura dos acontecimentos, vulnerável, porém fora de si, poderia conduzir a ações extremas. Mas não havia mais tempo para tentar rever conceitos, pois faltavam aproximadamente quinze minutos para a meia-noite. A flecha foi lançada, a palavra foi proferida, e não era possível voltar atrás. — Eu quero seus olhos de rubi, seu maldito! — gritou o filho, iniciando um choro descontrolado. — E quantos você pretende arrastar para o seu abismo de perdição? Você acha que pode sair impune desse seu plano maldoso? — a voz do pai recuperava aos poucos seu vigor. Assemelhava-se ao canto do cisne, o único som que essa bela ave emite, no momento próximo de sua morte. — A vida é regida pela lei de ação e reação. O que você joga no mundo, volta para você. Pode demorar uma semana, uma década ou uma vida inteira. Mas tenha a certeza de que não ficará impune! Isso foi mais do que o ambicioso rapaz pôde suportar. Aquela alteração na postura do pai o deixou confuso e fez ruir todas as muralhas de autoconfiança e sensação de poder que ele havia erigido por tanto tempo. O frágil velho, que era somente lamentações e súplicas, de repente o encarava, no alto de seu leito de morte. Seria uma alucinação causada pela droga? Pela primeira vez, ele se arrependeu de ter usado aquela dose imensa de entorpecente. Estava suportando tão bem aquela noite maldita com uma quantidade minúscula! Por que foi usar mais, usar uma dose acima da que estava acostumado? Logo na reta final de seu plano, colocou tudo a perder. Seu corpo seguiu a queda em espiral que sua mente iniciou. A euforia causou taquicardia; a ansiedade agravou seus tremores; e finalmente a paranoia fez com que perdesse o controle de seus atos, lançando-o em uma ação desesperada, tal qual um caminhão desgovernado. Os funcionários da casa, atraídos pelo barulho no cômodo, adentraram o quarto em estado de alerta. Todos temiam pela saúde do dono da propriedade, e o alarde causado ali denotava que algo poderia estar errado com ele. A grande surpresa foi encontrar o filho estirado no chão, com os olhos esbugalhados, a boca espumando e sem respirar. O pai o fitava com olhos surpresos, parecendo não acreditar no que via. Rapidamente, os profissionais de saúde presentes prestaram os primeiros socorros e providenciaram o transporte do rapaz até o hospital mais próximo. Porém, seus esforços foram em vão: ele havia sofrido um infarto fulminante, sem chances de mantê-lo ligado ao mundo dos vivos. Quando cessou toda a movimentação para salvar a vida do rapaz, a enfermeira foi checar se o patriarca precisava de algum tipo de calmante para tentar amenizar o estresse
[SE7E VISÕES - AMBIÇÃO] Página | 75 da situação pela qual havia passado. Por ironia do destino ou não, tomada de assombro, ela percebeu que o senhor enfermo já não respirava, e que seu corpo já esfriava. Pela segunda vez naquela noite, todo o esforço daquelas pessoas para salvar uma vida foi em vão. Pai e filho partiram deste mundo no mesmo dia. Mais uma vez, a ambição do caçador carregava inocentes em sua trilha destrutiva. Ironicamente, o relógio do quarto marcava meia-noite quando a enfermeira finalmente descobriu o corpo sem vida do seu contratante.