Sete Visões: Ambição - rtavares consultoria & treinamento
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23h00 ao final de uma vida<br />
[SE7E VISÕES - AMBIÇÃO] Página | 73<br />
— Esta nova dose de medicação vai ajudar um pouco a aliviar sua dor de cabeça —<br />
diz a enfermeira, aplicando uma injeção ao tubo que leva o soro ao braço do enfermo. — O<br />
senhor tem certeza de que não quer dormir um pouco? Perece tão cansado...<br />
— Não se preocupe comigo. Agradeço sua ajuda, mas agora preciso ficar só. Meu<br />
filho retornará em breve ao quarto, e temos uma conversa importante. Caso precise, eu<br />
tocarei a campainha.<br />
— Tudo bem. Com licença.<br />
Por um segundo, o homem pensou em pedir ajuda à enfermeira, solicitando a ela que<br />
chamasse a polícia. Porém, ao pensar melhor, decidiu não fazê-lo. Preferia morrer a ver<br />
seu único filho na cadeia. Aquela pendência deveria ser resolvida somente entre os dois, e<br />
ele estava decidido a ir até o final desse embate, fosse qual fosse o seu desenlace.<br />
O remédio começou a fazer efeito, e a dor que tanto o atormentava diminuiu. Isso o<br />
deixou mais confiante de poder ter maior clareza de pensamento. Só temia o estado no<br />
qual o filho regressaria ao quarto, pois nunca o havia visto sob o efeito excessivo de<br />
drogas. Será que ele se tornaria ainda mais violento? Saberia avaliar as consequências de<br />
seus atos, ou se tornaria uma fera finalmente livre de amarras morais, pronta a saciar sua<br />
sede de sangue?<br />
A resposta veio rápida. Um esbarrão no batente da porta denunciou a chegada do<br />
rapaz. Ele estava visivelmente em um estado alterado. Suas mãos tremiam levemente e<br />
seus olhos estavam arregalados. Havia exagerado na dosagem desta vez. Andando<br />
rapidamente, aproximou-se do pai.<br />
— Ah, agora sim eu consigo encarar essa reta final!<br />
De perto, foi possível notar que suas pupilas estavam dilatadas. Ele suava e nos<br />
cantos da boca insinuava-se um leve traço de uma saliva de textura grossa.<br />
— Agora sou o dono do mundo! Se quiser contar mais uma historinha, que seja bem<br />
diferente dos contos de fadas que apresentou até então, pode contar!<br />
Inquieto, ele permaneceu andando pelo quarto, parecendo uma fera enjaulada.<br />
Alternava olhares de desafio e temor ao pai. Olhos insanos pareciam querer saltar das<br />
órbitas, enquanto giravam freneticamente. O pai notou que precisaria tocar fundo na<br />
mente do drogado, e para isso decidiu evocar uma lembrança de sua infância, uma<br />
história real que intrigou tanto a ele quanto a seu irmão. Quem sabe isso não o traria de<br />
volta à razão? Isso demandaria muita capacidade de improviso e criatividade da parte do<br />
velho, mas ele estava confiante, pois a dor que o incomodava dissipava-se cada vez mais.<br />
Foi então que citou o Evento Tunguska, um acontecimento da Sibéria que havia<br />
intrigado as crianças, quando elas tiveram contato com o artigo de uma revista científica<br />
que estudava as possíveis causas desse fenômeno ocorrido no início do século XX.<br />
No início, pareceu que a estratégia havia sido bem sucedida. O rapaz sentou-se na<br />
poltrona e passou a ouvir atentamente, quando percebeu que o assunto remetia a um<br />
momento que passou junto ao irmão falecido. Porém, logo no início da narrativa, ele<br />
voltou ao seu estado de inquietude, e o pai teve de apelar para a aparição de um ente das<br />
estrelas, algo incomum para amarrar a atenção do seu rebento enlouquecido.<br />
O filho levantava-se e sentava-se em um ritmo anormal, mas mesmo assim pareceu<br />
prestar atenção a toda a história. Ao final, ele encarava o pai, e sua respiração estava mais<br />
entrecortada. Suas roupas estavam empapadas de suor e ele espumava pela boca.