Sete Visões: Ambição - rtavares consultoria & treinamento

[SE7E VISÕES - AMBIÇÃO] Página | 60
golpes de machado laceraram o rígido pescoço do ser, fazendo com que, enfim, sua cabeça
fosse separada do corpo. Sangue de brilho esverdeado escorria em profusão sobre a terra,
soltando vapores decorrentes do contato daquele líquido, repleto de componentes estranhos
a este planeta, com a atmosfera terrestre.
Exultante, o caçador segurou a cabeça decepada na frente do seu rosto, encarando os
fabulosos olhos do viajante inocente assassinado. Sim, eles valeriam uma fortuna! Finalmente,
teria a riqueza que tanto ambicionou e deixaria este lugar maldito, que só trouxe a
ele cansaço e tédio. Nem voltaria para a aldeia, apenas seguiria em frente, até encontrar
mercadores com os quais pudesse negociar as maravilhosas joias. Sem perder tempo, partiu
para seu destino.
Para trás, deixou o corpo inerte do viajante estelar. Um detalhe do metabolismo do
extraterrestre, porém, não era do conhecimento do caçador. Quando os de sua espécie
morrem, iniciam em seus corpos um acelerado processo de decomposição. No seu ambiente
natural, o corpo do alienígena levaria um dia para virar pó, de modo inofensivo. Na atmosfera
terrestre, porém, o efeito foi bem diferente.
O caçador notou um chiado discreto, vindo da cabeça que carregava. Ao olhar para
ela, percebeu que os olhos esmeraldinos, objetos de sua cobiça e da perda de seus princípios,
emitiam um brilho cada vez mais forte, como se chamas sobrenaturais ganhassem
cada vez mais força em seu interior. Ele largou a cabeça no chão e começou a correr. Para
sua ruína, era tarde demais.
Na cabeça caída, o brilho esverdeado era cegante. E então se deu a explosão. Uma
imensa bola de energia nasceu, expandiu-se e deslocou-se na atmosfera, devastando tudo
o que encontrou pelo caminho, até que a energia liberada pela decomposição do corpo
extraterrestre fosse extinta. Simples palavras não são suficientemente grandiosas para descrever
o estrago causado.
A explosão de trinta megatons causou perturbações no campo magnético do planeta,
e ondas de choque atmosférico circundaram a Terra duas vezes. Em um raio de mais de
dois mil quilômetros quadrados, florestas inteiras foram devastadas, tendo suas árvores
arrancadas com raiz como se fossem meros gravetos secos. Toda a fauna da região também
tombou ante a fúria de tal evento, inclusive o caçador e sua aldeia. O impacto na região
foi tão descomunal, que até hoje o meio ambiente dali não se recompôs plenamente.
Não podemos culpar o visitante das estrelas pelo ocorrido. Em primeiro lugar, ele
não planejou essa passagem pelo planeta. Os danos não foram causados pelo seu equipamento,
que era totalmente inofensivo, tampouco por alguma ação desse ser. A devastação
causada pelo que hoje é conhecido como “Evento Tunguska”, ocorrido às sete e quinze da
manhã daquele trinta de junho de 1908, teve como agente causador um mal que aflige a
humanidade desde os tempos mais remotos: a ambição.