N.º 187 - Novembro 2007 - 2,00 euros - Inatel
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Edifício da Biblioteca Municipal,<br />
antiga Câmara Municipal,<br />
e vista da rua principal de Belmonte<br />
instalar o Museu dos Descobrimentos,<br />
e a Tulha, uma casa maciça<br />
onde eram guardadas as rendas<br />
anuais dos produtos agrícolas.<br />
As ruas de Belmonte deslizam<br />
contorcidas em direcção ao Vale do<br />
Zêzere. O casario de paredes de<br />
pedra predomina numa paisagem<br />
urbana pontuada, aqui e ali, de<br />
fachadas coloridas e varandas de<br />
ferro forjado. É na zona baixa da<br />
vila, um bairro vincado de ruelas e<br />
casinhas de piso térreo chamado<br />
Marrocos, que emergem os vestígios<br />
mais visíveis da presença secular<br />
da comunidade judaica. Era<br />
aqui a Antiga Judiaria.<br />
Ao longo das ruas da Fonte da<br />
Rosa, onde foi construída a Nova<br />
Sinagoga, do Olival e do Inverno as<br />
ombreiras das portas conservam<br />
ainda cruzes gravadas na pedra,<br />
indicação de que estas casas acolheram<br />
Cristãos-Novos. Quando D.<br />
Manuel I impôs aos judeus portugueses,<br />
em 1496, a conversão forçada<br />
ao cristianismo ou o exílio, Belmonte<br />
tornou-se um refúgio para a<br />
comunidade judaica. Por causa da<br />
perseguição da Inquisição, instituída<br />
em 1536, os Cristãos-Novos,<br />
como não podiam professar a sua<br />
religião publicamente, praticaram<br />
em segredo as tradições e costumes<br />
judaicos.<br />
O segredo desta comunidade<br />
criptojudaica só foi revelado em<br />
1925, com a publicação do estudo<br />
“Os Cristãos-Novos em Portugal no<br />
Século XX”, da autoria do judeu<br />
polaco Samuel Schwarz. Hoje, mais<br />
de 5<strong>00</strong> anos após a conversão forçada<br />
ao cristianismo, a comunidade<br />
judaica de Belmonte reúne ainda<br />
cerca de 150 pessoas, tem constituição<br />
legal desde 1988, conta com um<br />
rabi para as cerimónias principais, e<br />
dispõe de uma Nova Sinagoga,<br />
inaugurada em 1996, de um cemitério<br />
e de um museu próprios. E o<br />
museu, apesar de ter apenas dois<br />
anos de existência, é já uma das principais<br />
atracções turísticas da vila: por<br />
ano, recebe em média 15 mil visitantes,<br />
em especial americanos, canadianos<br />
e israelitas. ■<br />
António Sérgio Azenha [texto e fotos]<br />
<strong>Novembro</strong> <strong>2<strong>00</strong>7</strong> TempoLivre 17