N.º 187 - Novembro 2007 - 2,00 euros - Inatel

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A CHEFE SUGERE LUZIA AZEVEDO| INATEL ENTRE-OS-RIOS Cabrito assado à Padeiro É sabido que cabrito assado com batatas assadas é um prato bem Português, servido em várias regiões de Norte a Sul, geralmente associado a dias festivos. A designação “à padeiro” surge da tradição de assar o cabrito e as batatas no forno tradicional do pão. Na zona de Entre-os-Rios o cabrito assa-se depois de ter estado numa rica marinada de vinho, alho, louro, banha de porco, entre outros ingredientes, que conferem ao cabrito a tenrura e apuram o sabor. INGREDIENTES PARA 4 PESSOAS: 1400 g de cabrito; 250 g de cebola, 4 dentes de alho, 80 ml de vinho branco maduro, banha de porco q.b., 1200 g de batatas, 1 ramo de salsa, 1 limão, louro q.b., sal q.b., piri-piri q.b., colorau q.b.. PREPARA-SE ASSIM: Prepara-se o cabrito de véspera (parte-se, lava-se e escorre-se). Faz-se uma pasta com um pouco de banha, a cebola cortada em meia-lua, o alho, o louro, o vinho branco, o sal, o piri-piri, o sumo de limão, a salsa e o colorau. Unta-se o cabrito com esta pasta e guarda-se no frigorífico, deixando marinar durante 24 horas. No dia seguinte, coloca-se o cabrito a assar durante cerca 56 TempoLivre Novembro 2007 de 2 horas, em forno médio (cerca de 200ºC). Enquanto assa, adiciona-se um pouco de vinho branco e mexe-se regularmente. As batatas para assar são cortadas aos gomos. Colocam-se em água e sal e escorrem-se antes de serem postas a assar. Deverá reservar-se uma parte da pasta que serviu para untar o cabrito, para que as batatas assem nesse molho. Junta-se um pouco de vinho branco para que não se agarrem ao fundo e vai-se mexendo. Rectifica-se o tempero. Serve-se o cabrito com as batatas e arroz branco, preferencialmente acompanhado de legumes cozidos. COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL POR PESSOA: • 43,2 g de proteínas; • 28,1 g de gordura; • 70 g de hidratos de carbono; • 7,1 g de fibra; • 676 kcal INFORMAÇÕES E RESERVAS: INATEL ENTRE-OS-RIOS Torre, 4575-416 Portela - Penafiel Tel: 255 616059 - Fax: 255 615170 Email: cf.erios@inatel.pt
O TEMPO E AS PALAVRAS | MARIA ALICE VILA FABIÃO São vidas... Das figuras amadas fica o eco / da sua refulgência de figuras./ São quase mágoa de sítio / em que, havendo-se já apagado a lua, brilhasse ainda o vácuo / duma presença para sempre nula./ E, contudo, o firmamento / se ilumina das máculas nocturnas / desses ecos amados entre lágrimas / na sua refulgência de figuras. Fernando Echevarría, in: Sobre os Mortos, Ed. Afrontamento, Porto, 1991 Oprimeiro a regressar foi o Isaak, o droguista da esquina – disse-me, falando de um tempo passado, em que eu não sabia o que era a guerra. – Contaram-me que chegou ao anoitecer – prosseguiu. – Vinha esquelético e andrajoso e arrastava-se com dificuldade por entre as casas que ainda se mantinham de pé. Ao chegar à esquina, parou. Parecia perdido. Subitamente, pôs-se a cantar com voz roufenha e a fazer vénias diante da porta, que, como muitas outras da rua, tinha sido fechada com tábuas e pregos. Todos pensaram tratar-se de um louco, porque, com aquela barba e aquela grenha, ninguém imaginava que fosse o Isaak. Afinal, acabaram por compreender que ele não estava a cantar, mas sim a entoar, em hebraico, uma oração, uma espécie de lamento que, antes da guerra, se ouvia na antiga Sinagoga, em véspera do Sabath. Só o reconheceram quando se sentou, apático, na soleira da porta da casa que tinha sido a dele. Algumas pessoas tentaram ajudá-lo; outras aproximaram-se apenas para verificar se era realmente verdade haver sobreviventes. Escondido atrás daquela juba nojenta, porém, ele parecia cego e surdo a tudo o que o rodeava. Uma mulher pôs-lhe na frente uma tigela com duas batatas. Nem lhes tocou. Tinha sido o primeiro a chegar, segundo diziam. E veio só, é claro. Contava-se que, durante muito tempo, todos os dias à tardinha ia à estação: “A minha mulher chega hoje”, dizia. E ali ficava, no cais, à espera, com um sorriso nos lábios. Até que um dia, deixou de ir à estação. Quatro ou cinco dias mais tarde regressou o segundo, um velho que morava um pouco mais abaixo e foi trazido numa carroça de feno por um lavrador das imediações, que o tinha ajudado a sobreviver, escondendo-o num palheiro. Extremamente fraco, deitou-se no chão, ao comprido, a beijar a soleira da porta e a agradecer a Deus o ter-lhe permitido viver em liberdade. Durante uma semana não regressou mais ninguém. Era Maio, e havia muito que os salgueiros-chorões do parque se tinham coberto do verde-lagarta explosivo das Primaveras holandesas. Era a primeira Primavera em liberdade. - A seguir – continuou –, chegaram dois jovens – os dois irmãos que ainda lhe vendem o peixe, na Lange Visstraat. Consta que dormiram durante três dias seguidos e que os vizinhos os ouviam chorar alto durante o sono. Aliás, diziase, só acordaram com o choro da primeira mulher que regressara e em quem só eles reconheceram a irmã adolescente que, três anos antes, os Alemães tinham levado com o resto da família. Tinha sido uma das vítimas do Dr. Mengele, dizia-se, à boca pequena. (Quando a conheci, na peixaria, teria os seus quarenta, continuava a silenciar sobre o assunto, mas havia muito já que tinha deixado de ocultar com a manga aquele número misterioso tatuado a negro na face interior do braço. De quando em vez, deixava de ser vista. Enlouquecia, dizia-se.) Ameia dúzia de Judeus do bairro que sobreviveram nos campos de concentração alemães ou escondidos algures regressou logo após o fim da guerra, ao longo das últimas semanas de Maio. - Nessa altura, ainda eu estava no campo de concentração japonês de Tjideng – acrescentou, com voz pensativa. Fugi dos nazis, para Batávia – do espeto para a sertã! Durante mais de três anos, nada soube do meu marido, que andava num petroleiro, nas linhas do Oriente. Nem ele de mim. (“Entre duas palavras, a voz/perde o equilíbrio/ escorrega no próprio reflexo”.) De súbito, os olhos iluminam-se-lhe: - Foi com os “Japs” que aprendi as primeiras palavras portuguesas: Pan (pão) e Kappa (capa). Garpo, mantêga, bandera e mesja, aprendi com os Indonésios. Sorri. Para ela, a salvação chegara apenas em Agosto, com Hiroshima e Nagazaki. Doía-lhe, disse, dever a vida à bomba atómica, que tantas vidas e sofrimento custara. Mas era a verdade. Ela e o marido tinham sido os últimos a regressar, quase um ano mais tarde. Olho-a, na fotografia amarelada: - “A caminho de Priok – 11.2 .42. A nossa última hora”. Onde, agora, todos? Mais uma vez, os crisântemos florescem aqui por toda a parte. Impossível esquecer que, para os que partiram, não haverá mais regresso. Inútil ir à estação. O texto escreve-se - exilada dele ou exilada nele, reconto. Lá fora, alguém suspira: - São vidas!... ■ Novembro 2007 TempoLivre 57
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