N.º 187 - Novembro 2007 - 2,00 euros - Inatel
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BOAVIDA<br />
Consumo<br />
Produtos biológicos<br />
Um número crescente de consumidores opta pelos produtos de agricultura biológica. Questões de<br />
saúde, ambientais e alimentares estão na base desta preferência, mas até que ponto estes produtos vão<br />
de encontro às expectativas e preocupações dos consumidores?<br />
Carlos Barbosa de Oliveira<br />
Asegurança alimentar é<br />
uma das questões que,<br />
nesta primeira década do<br />
século XXI, coloca mais<br />
questões e levanta maiores problemas<br />
aos consumidores.<br />
Compreende-se que assim seja,<br />
porque a alimentação é a base da<br />
saúde e a indústria alimentar esconde<br />
ainda uma série de práticas, segredos<br />
e detalhes, cujos efeitos na<br />
saúde dos consumidores se desconhecem.<br />
O registo de alguns “incidentes” na<br />
cadeia alimentar ocorridos durante<br />
as duas últimas décadas tem também<br />
contribuído para agravar o sentimento<br />
da insegurança dos consumidores<br />
em relação ao que comem, o que<br />
resulta numa maior sensibilização<br />
das pessoas para as questões nutricionais.<br />
Simultaneamente, tem-se<br />
assistido a uma crescente procura,<br />
por parte dos consumidores, de produtos<br />
biológicos, considerados mais<br />
saudáveis e amigos do ambiente.<br />
A agricultura biológica distinguese<br />
de outros métodos de produção<br />
agrícola por manter – e até melhorar<br />
- a fertilidade e a actividade biológica<br />
dos solos através de práticas não<br />
poluentes. Uma vez que respeita os<br />
mecanismos ambientais de controlo<br />
de pragas e doenças e evita o uso de<br />
pesticidas sintéticos, herbicidas e fertilizantes<br />
químicos, hormonas de<br />
crescimento, antibióticos e manipulações<br />
genéticas, os seus efeitos estendem-se<br />
à pecuária, onde é dada<br />
particular atenção ao bem estar dos<br />
animais e à sua alimentação, que é<br />
feita na maioria das situações, essen-<br />
cialmente à base de produtos da<br />
própria exploração agrícola.<br />
Continuam a existir, porém, alguns<br />
obstáculos à comercialização e fidelização<br />
dos consumidores a estes produtos,<br />
que passo a enunciar.<br />
Ao contrário do que já acontece em<br />
muitos países europeus, a venda de<br />
produtos de origem biológica, nas<br />
grandes superfícies, tem uma dimensão<br />
quase irrisória em Portugal, não<br />
indo, aparentemente, ao encontro<br />
dos desejos e preocupações de quem<br />
os pretende adquirir. Os locais onde<br />
é possível encontrar maior variedade<br />
de produtos de venda são normalmente<br />
pouco convidativos para a<br />
maioria dos consumidores, que prefere<br />
fazer as suas compras naquelas<br />
catedrais do consumo cheias de<br />
arrebiques modernaços, onde as pessoas<br />
se acotovelam em amplas<br />
artérias com nomes soando a paraísos<br />
tropicais, ornamentadas de<br />
árvores cheirando a plástico, onde<br />
repousam pássaros de cântico electrónico,<br />
ao desafio com o rumorejar<br />
de fontes virtuais. Os consumidores<br />
não estão, na generalidade, abertos<br />
a fazer o esforço adicional de se<br />
deslocarem às lojas especializadas<br />
ou às cooperativas de produtores<br />
para aí comprarem os produtos<br />
biológicos, nem habituados<br />
a deslocar-se a mercados<br />
regulares em espaço aberto –<br />
como é o caso do que regularmente<br />
se realiza no Príncipe Real em Lisboa.<br />
Frequentemente, os consumidores<br />
declaram não optar pelos produtos<br />
biológicos por serem caros. O preço<br />
34 TempoLivre <strong>Novembro</strong> <strong>2<strong>00</strong>7</strong> ilustração: André Letria