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N.º 187 - Novembro 2007 - 2,00 euros - Inatel

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do iminentemente prático, uma vez que era o pilar da<br />

sobrevivência tribal. Com a sua madeira construíam-se<br />

cabanas, canoas, máscaras e lanças, com a sua casca<br />

faziam-se adornos cerimoniais para o cabelo, vestuário<br />

e utensílios domésticos, com as suas folhas e raízes e<br />

sementes fabricavam-se remédios contra a tuberculose,<br />

doenças de fígado, escorbuto e febre.<br />

Por estas razões, o respeito e a conservação dos<br />

gigantes arbóreos da floresta exigiam todas as diligências:<br />

por exemplo, nenhuma mulher subiria a uma<br />

Thuja Plicata para a colheita da casca, sem antes<br />

D. Fernando II<br />

(1819-1885) e sua<br />

segunda esposa, a<br />

jovem cantora lírica<br />

Elise Hensler,<br />

Condessa D`Edla<br />

(1836-1929)<br />

realizar uma cerimónia propiciadora, e caso fossem<br />

necessárias apenas algumas tábuas para fazer uma casa<br />

seriam retiradas do tronco sem abater a árvore.<br />

À plantação das várias thujas em Sintra – em 1886, há<br />

notícia de “dúzias”, pertencentes às espécies aurea,<br />

dumosa, plicata, occidentalis, etc – não deve ter sido<br />

alheia a influência do cunhado da Condessa D`Edla, o<br />

silvicultor americano John Slade, casado com a sua irmã<br />

Mina Louise.<br />

As particularidades do longo namoro entre D.<br />

Fernando II e a futura Condessa D`Edla (o<br />

título é-lhe conferido no casamento) faziam<br />

adivinhar a expansão do projecto florestal de<br />

Sintra, iniciado pelo rei consorte, no tempo de D. Maria<br />

II. É que, no jardim da sua casa de solteira – onde ainda<br />

hoje, a partir da rua se avista uma árvore de grande<br />

porte – ela e o rei-artista (é reconhecido o seu talento de<br />

barítono e gravador, além de ter sido também coleccionador<br />

e mecenas de arte) já se dedicavam a várias<br />

experiências botânicas. “Muitos annos residiu a amante<br />

de D. Fernando no prédio, n<strong>º</strong> 68, da Rua dos Remédios,<br />

à Lapa (...) Depois do casamento dos infantes, o viúvo<br />

rei passava dias e noites inteiras com Madame Hensler.<br />

Cuidavam ambos do jardim, onde se cultivavam plantas<br />

exóticas e raras (...)”, relata Maximo Estrella, na obra<br />

“O Perfil da Condessa D`Edla – Madrasta D`El Rei D.<br />

Luís I”, Lisboa, 1886.<br />

Numa cidade avessa às árvores, como bem observou<br />

Baudelaire de visita pela Capital, que felicidade para D.<br />

Fernando II (de origem austríaca) encontrar uma<br />

estrangeira cosmopolita (nascera na Suíça mas iniciara<br />

a carreira artística nos Estados Unidos) que além de<br />

artista partilhasse a mesma paixão pela natureza.<br />

Que lhe importavam as más línguas, ou a censura do<br />

filho rei, D. Pedro V, quando este lhe abria a porta de<br />

madrugada, não fossem os criados perceber as horas a<br />

que recolhia sua majestade. Do Paço das Necessidades<br />

até à Lapa todos caminhos iam dar à Rua dos<br />

Remédios. E sem a teimosia destes encontros, o Parque<br />

da Pena seria certamente bem diferente do que é. ■<br />

<strong>Novembro</strong> <strong>2<strong>00</strong>7</strong> TempoLivre 29

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