Igreja de Sto. António, em Lisboa cristã. Menos de um ano depois, voltam ao mosteiro os entusiastas missionários — melhor, os seus ossos: são os santos mártires de Marrocos. Era um desafio ao seu ardor apostólico. No ano seguinte, Fernando pedia admissão na ordem franciscana, tomava o nome de António e, à primeira oportunidade, embarcava para o norte de África. Mas, pouco após a chegada, as febres atacaram-no. Teve de render-se, tomou um navio de regresso à pátria. Só que uma tempestade levou a embarcação até à Itália — e essa tempestade foi providencial, pois assim começou a «carreira europeia» do futuro santo. Em 1221, assistiu ao Capítulo Geral da Ordem, convocado por São Francisco de Assis no regresso da sua viagem ao Egipto; e o ambiente ali vivido impressionou-o profundamente. Foi esse, talvez, o motivo pelo qual se recolheu ao eremitério de Montepaolo, para se entregar à meditação. No entanto, o retiro não vai durar muito tempo: em breve um grupo de noviços se desloca a Forli para receber a ordenação. Frei António acompanha-os e calha que seja ele a fazer-lhes a homilia… O PODER DO VERBO Essa pregação é decisiva, porque toda a assistência fica maravilhada, empolgada, com o poder oratório de Frei António. Não tarda que São Francisco lhe confie a missão de ensinar Teologia aos outros irmãos. Em Bolonha, São Francisco ouve-o e fica impressionado com os seus conhecimentos e a força do seu verbo. António passa a França; ensina, como já foi referido, em Toulouse e Montpellier, mas também em Limoges. Ataca as heresias; contesta, sobretudo, os cátaros. Dãolhe as missões mais difíceis. Mais uma vez, afirma a sua vocação de «místico activo», de meditante e lutador. São Francisco de Assis morre em 1226; António volta a Itália, para participar no Capítulo Geral que elege o sucessor. Este, Frei João Parente — que, segundo a tradição, lhe vestira o hábito franciscano, anos antes, em Portugal —, mandao para a Lombardia, como dirigente e pregador. E assim passam os derradeiros anos de António, que acaba a sua vida em Pádua, a 13 de Junho de 1231. Cerca de onze meses mais tarde, o Papa Gregório IX assinará a bula de canonização. Resta ainda lembrar que, em 1946, Pio XII proclamou Santo António Doutor da Igreja. Resta, também, recordar que a veneração de que ele é alvo não se limita, obviamente, à Europa cristã. Em todo o mundo, milhões de crentes o invocam — ou como Santo António de Pádua ou como Santo António de Lisboa. Foi (é) as duas coisas; mas, para nós, foi acima de tudo o primeiro português a colocar a sua «marca» na Europa — e da melhor forma, já que (aceitemo-lo para além das nossas convicções pessoais) o fez no domínio da cultura e do espírito. ■ João Aguiar <strong>Novembro</strong> <strong>2<strong>00</strong>7</strong> TempoLivre 19
TERMAS EM PORTUGAL [7] Os bons ares de CARVALHELHOS No sopé de um castro pré-romano classificado e envoltas pelo conjunto montanhoso do Barroso, as Caldas Santas de Carvalhelhos propiciam ao visitante quietude e bons ares, a que não é alheio o notável parque, recanto de frescura, cor, som e perfumes característicos de um lugar pleno de tranquilidade. 20 TempoLivre <strong>Novembro</strong> <strong>2<strong>00</strong>7</strong>