N.º 187 - Novembro 2007 - 2,00 euros - Inatel

EM CARVALHELHOS, abundam os
indícios da presença Celta, o que nos
leva a crer que as propriedades
destas águas já seriam conhecidas
destes povos. Em 1830, este local era
frequentado por um grande número
de pessoas, que o apelidaram de
«Caldas Santas». Em 1915, foi dado o
Alvará para a exploração oficial das
nascentes, e as águas engarrafadas e
«engarrafonadas» por processos
primitivos começaram a vender-se
no país e a ser exportadas para o
antigo Ultramar, Brasil e para a
Venezuela, tal como foram enviadas
para o Corpo Expedicionário Português
durante a Grande Guerra. Em
1941, constituiu-se a Empresa
Caldas Santas de
Carvalhelhos, que adquiriu
os direitos da concessão,
iniciando-se o
processo de modernização
das instalações de
engarrafamento, sendo
que, em 1961, as primeiras
máquinas manuais
foram substituídas
por uma linha automática
e, no ano seguinte, foi
remodelada a primeira
unidade de oficina. Entre
1967 e 1972, entraram em
funcionamento, respectivamente,
uma segunda e terceira linhas
de engarrafamento e de gaseificação.
Este avanço nos processos de
engarrafamento e comercialização
da água foi acompanhado pela modernização
das instalações balneares,
a partir dos anos 70. Alguns projectos
não tiveram concretização em
obra, mas a construção do actual balneário
permitiu melhorar as condições
de tratamento das doenças da
pele e dos aparelhos digestivo e circulatório,
graças aos elementos hiposalinos
e hipotérmicos das águas, o
Pormenor do Balneário
bicarbonato, o sódio, o flúor e a sílica.
Se as águas do seu balneário são
pródigas em fazer bem, ao serem
administradas, à semelhança de um
medicamento, numa aplicação íntima
que afecta directamente a concepção
e experiência dos corpos,
também os sentidos são activados
pela ambiência natural, que evoca
sensações. Os aquistas usufruem de
um parque frondoso de grande
interesse botânico e paisagístico,
onde predominam as espécies autóctones
– como o Carvalho Roble, o
Carvalho Negral e o Castanheiro –
dispostas nas plataformas do terreno,
serpenteadas por levadas de
água que refrescam o ambiente e
estimulam os sentidos de quem está
e de quem passa.
É um local de virtudes, tendo os
ingredientes necessários e complementares
aos efeitos objectivos medicinais
da água. Este recurso natural
é, aliás, uma das imagens de marca
do concelho de Boticas.
Para além das termas, existe um
número considerável de moinhos:
uns, azenhas de roda vertical de
propulsão superior e rodízios; outros,
moinhos de roda horizontal.
Ambos foram fundamentais para
uma economia associada à moagem
intensiva do centeio das casas rurais.
Numa região em que ainda predomina
a actividade de carácter agropastoril
e o autoconsumo, a implantação
da propriedade e do investimento
industrial deu-se muito escassamente.
Na zona de Carvalhelhos,
de pequena altitude e mais povoada,
os moinhos existem em grande
número e dispersos ao longo das linhas
de água que asseguram os caudais
necessários ao seu funcionamento
e são, presentemente, um
bom motivo de contacto do turista
com um património cada vez mais
raro em Portugal, mas que neste concelho
existe em quantidade
apreciável.
Para além deste valor
cultural, o aquista pode
apreciar os produtos
gastronómicos da região.
Se, nesta altura do
ano, está a pensar em
deslocar-se a Carvalhelhos,
não perca a Feira
do Mel de Barroso e da
Carne Barrosã, onde
estes dois produtos, de
qualidade genuína e de
Origem Protegida, estão
em particular destaque.
Descubra ainda a singular
Rede de Tabernas do Alto
Tâmega, onde se come e bebe junto
das tradições mais ricas. Bem características
são a Cozinha da Eugénia
e a Taberna do Tio João, ambas em
Carvalhelhos. Aqui, não se trata das
águas que curam, mas há uma qualquer
semelhança entre o repasto e a
espiritualidade das «águas santas»,
porque em ambas existem energias
benéficas com efeitos positivos,
desde que tomados com considerada
moderação. ■
Jorge Mangorrinha
Helena Gonçalves Pinto
Novembro 2007 TempoLivre 21