Ciclo Origens da Academia - Academia Brasileira de Letras
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Alberto Venancio Filho<br />
Lúcia Miguel-Pereira assinala que com a novela O marido <strong>da</strong> adúltera e sobretudo<br />
com seus contos, obras <strong>da</strong> moci<strong>da</strong><strong>de</strong>, Lúcio <strong>de</strong> Mendonça se inclui entre<br />
os precursores do Realismo.<br />
O romance O marido <strong>da</strong> adúltera levantava a tese <strong>de</strong> que, ao contrário do livro<br />
<strong>de</strong> Dumas Filho, o marido traído, ao invés <strong>de</strong> ter o direito <strong>de</strong> matar a adúltera,<br />
tem o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> matar-se. Comenta Múcio Leão:<br />
“Confesso não conheço, em nenhuma literatura, tese mais injusta, mesmo<br />
mais aberrante <strong>da</strong> moral comum, do que essa que <strong>de</strong>scarrega sobre a vítima o<br />
castigo. Também não me consta que haja em nenhuma literatura, solução<br />
mais implacável para o problema do homem traído na sua confiança conjugal.<br />
É uma solução que aberra <strong>de</strong> Tolstoi, cuja personagem caí<strong>da</strong> em adultério<br />
encontra o castigo no suicídio, aberra <strong>de</strong> Flaubert e <strong>de</strong> Eça <strong>de</strong> Queirós, cuja<br />
adúltera tem como castigo a morte, aberra também do nosso professor <strong>de</strong> ceticismo,<br />
Machado <strong>de</strong> Assis, pois ao menos ele <strong>de</strong>u a Bentinho, vítima <strong>da</strong>s possíveis<br />
infi<strong>de</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Capitu, o direito <strong>de</strong> viver até a velhice.”<br />
Segundo Luciana Stegagno Picchio, temos no sóbrio e conciso conto “O<br />
hóspe<strong>de</strong>” o tema clássico-folclorístico (numa linha ininterrupta que passa roçando<br />
o Fatal Curiosity <strong>de</strong> George Lillo, 1736, para chegar ao Malentendu <strong>de</strong> Camus)<br />
<strong>da</strong> nêmesis pela hospitali<strong>da</strong><strong>de</strong> viola<strong>da</strong>, on<strong>de</strong> um casal <strong>de</strong> velhos que, por<br />
cupi<strong>de</strong>z, insidiam o hóspe<strong>de</strong> rico adormecido, <strong>de</strong>scobrem terem assassinado o<br />
próprio filho, que voltara tar<strong>de</strong> <strong>da</strong> noite incógnito. Ou ain<strong>da</strong>, no neo-romântico,<br />
emblemático “Luís <strong>da</strong> Serra”, o último bom selvagem <strong>da</strong> série, história do<br />
caipira ingênuo que, <strong>de</strong>siludido em seu amor pela moça <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>ixa-se<br />
<strong>de</strong>spe<strong>da</strong>çar pela onça, agra<strong>de</strong>cido, em que o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>clarado ain<strong>da</strong> era o Peri<br />
<strong>de</strong> Alencar. A pesquisa <strong>de</strong> Lúcio <strong>de</strong> Mendonça chegava, porém, ao gênero rústico<br />
por uma experiência romântico-naturalista, O marido <strong>da</strong> adúltera em 1881,<br />
uma glosa do Affaire Clemenceau <strong>de</strong> Dumas Filho, que empregava artifícios,<br />
como cartas “autênticas” publica<strong>da</strong>s em jornais, já utiliza<strong>da</strong>s com êxito por<br />
Eça <strong>de</strong> Queirós e Ramalho Ortigão no Mistério <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> <strong>de</strong> Sintra, que era uma<br />
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